Apêndice 9: Artigos de jornais e revistas

A mídia mundial tem feito a cobertura dessa crescente crise que gira em torno do décimo quarto Dalai Lama, uma crise que levou à tragédia maior consistente em violência e derramamento de sangue dentro da comunidade tibetana na Índia e que agora se espalhou por todas comunidades budistas ao redor do mundo. Duas das questões políticas principais por detrás dessa crise são: (1) a decisão unilateral do Dalai Lama de abandonar a independência tibetana enquanto um objetivo político e (2) sua proibição da prática religiosa de Dorje Shugden.

Muitos jornais e canais de televisão já fizeram reportagens sobre essa situação, mostrando em muitos casos as visões extremistas dos principais contendores ou as opiniões de outros jornalistas, geralmente infundadas. Agora que o público em sua maioria está ciente de que há um problema, faz-se necessária uma investigação mais profunda e uma análise das muitas questões complexas envolvidas, visando ao fim dessa grande tragédia de sofrimento humano desnecessário.

16 de junho de 1998 – “O Dalai Lama pede governo doméstico sob
tutela chinesa no Tibete”, The Washington Post:

O líder espiritual budista propôs negociações com a China para tornar o Tibete “uma entidade política democrática autogovernada (…) em associação com a República Democrática da China [que] poderia continuar responsável pela política exterior tibetana.
O Dalai Lama disse que ele estava “bem consciente de que muitos tibetanos ficariam desapontados pela postura moderada” que essas novas ideias representam.

16 de novembro de 1998 – “O Dalai Lama oferece o compromisso
do Tibete”, The Boston Globe:

O Dalai Lama, reverenciado pelos tibetanos, disse ontem que ele concordaria com menos do que a completa independência do Tibete para evitar a assimilação da região pela China. “Não estou insistindo para que sejamos um país independente,” foi o que disse o líder espiritual e temporal dos tibetanos numa entrevista.

11 de março de 1996 - “Refugiados irritados com governo do DalaiLama”, The Independent (Londres):

Refugiados tibetanos iniciaram ontem uma caminhada de dezoito dias, de sua sede a Nova Déli, com o objetivo de pressionar a China na esperança de obter a independência do Tibete. A marcha refletiu uma crescente impaciência de uma geração mais nova de tibetanos com o Dalai Lama, cuja oferta de compromisso sobre a independência não conseguiu obter concessões da China.

26 de janeiro de 1997 – Paul Salopek, “A guerra secreta da CIA no Tibete”, Chicago Tribune:

Os americanos vieram, ele disse, num grande avião turboélice, uma máquina reluzente que ele e outros estupefatos tibetanos nomearam “navio celeste”. Eles usavam óculos de sol e macacões de voo folgados. Eles carregavam luzentes armas automáticas em seus colos. E falando através de um intérprete, eles perguntaram a Nawang se ele desejava matar muitos chineses.
“Disse a eles que fi ia muito feliz em matar muitos chineses”, recordou-se o velho e enrugado mercador de 63 anos de idade, um dos milhares de tibetanos exilados vivendo nessa pitoresca capital no Himalaia.

“Eu era muito jovem e forte naquela época. Muito patriota.Disse-lhes que poderia ser um homem-bomba.”
Os estranhos, pilotos da força aérea trabalhando com a CIA, seguramente gostaram do que ouviram, porque, naquele dia quente no ano de 1963, numa base aérea secreta na Índia, levaram Nawang e outros quarenta diferentes recrutas tibetanos para a primeira viagem de avião de suas vidas. Era uma viagem que iria se estender por meio mundo e conduzir a um dos capítulos mais obscuros da longa história de atividades secretas da CIA na Ásia: a guerra secreta no Tibete.

20 de novembro de 1997 – John Goetz e Jochen Graebert, ‘Verklärt, verkitscht – Hollywood feiert den Dalai Lama’ (‘Modificado e de mau gosto – Hollywood festeja o Dalai Lama’), ARD (Documentário da TV alemã):

As coisas não são tão harmônicas e tolerantes ao redor do Dalai Lama – especialmente quando o que está em jogo é seu próprio poder.
Shugden é uma das muitas deidades protetoras tradicionais. Por muitos anos o Dalai Lama também cultuou essa deidade que existe há séculos. Mas agora ele proibiu o culto dessa deidade. Foi alegado que a prática de Shugden oferece riscos à segurança pessoal e saúde do Dalai Lama. Existe uma proibição de que qualquer devoto de Shugden seja empregado em funções que vão desde ministros até enfermeiras. E, além disso, o Dalai Lama exige que as pessoas vigiem umas às outras: [citando uma carta do governo:] “Quaisquer que sejam aqueles que continuem a cultuar a deidade Shugden, façam uma lista com nome, endereço e local de nascimento. Mantenham o original e nos enviem uma cópia da lista”. Denúncia e espionagem envenenaram a atmosféra dentre os exilados tibetanos.

O Dalai Lama é conhecido em todo o mundo por sua sabedoria. Mas, na realidade, ele toma todas suas decisões políticas importantes de uma forma altamente duvidosa: ele
pede o conselho de oráculos tibetanos tradicionais.

Lhasang Tsering: “No que diz respeito à implementação da democracia, eu apenas posso dizer é que o governo tibetano não demonstra interesse algum. De fato, chega a ser vergonhoso. A questão da independência foi decidida unilateralmente pelo Executivo. Nem mesmo o Parlamento foi consultado, muito menos a população. É por isso que digo: a decisão de desistir do objetivo da independência foi antidemocrática”.

5 de janeiro de 1998 – Beat Regli, “10 vor 10” SF1 (Documentárioda TV Suíça):

Uma proibição que abala muitos budistas tibetanos no coração de sua fé. Somente num monastério no sul da Índia, cerca de mil monges recusam-se a concordar com a decisão do Dalai Lama.

Ameaças anônimas são dirigidas a qualquer um que se recuse a obedecer a suas diretrizes: qualquer pessoa que cultue Dorje Shugden “(…) precisa ser identifi e combatida com fi meza. É preciso levá-los até o público. Eles precisam ser mortos”.
A família Thubten foi literalmente expulsa de sua área residencial.

Sr. Thubten: “Cerca de 100 pessoas nos atacaram. Caso tivéssemos saído de casa, definitivamente eles teriam nos matado”.
Seguidores fanáticos do Dalai Lama tentaram queimar a residência dessa família. Eles conseguiram obrigar essas pessoas, que reverenciam a deidade agora proibida pelo Dalai Lama, a fugir. Eles perderam tudo. Agora são párias da comunidade tibetana na Índia.

Sra. Thubten: “Eles arrombaram nossa casa e destruíram tudo. Eles quebraram a louça, despedaçaram a TV com pedras; eles destruíram a geladeira. Todas as janelas se foram, eles destruíram tudo. Meu marido trabalhou durante 35 anos para ter tudo isso”.
Somente algumas poucas vítimas querem depor contra essa perseguição.

Março de 1998 – Laura Durango, “Informe – Maus tempos”, Diário de Córdoba:

Os meios de comunicação ao redor do mundo começam a notar esse conflito. A televisão suíça SF1, a televisão alemã ARD e a revista canadense NOW já relataram os supostos métodos usados pelo governo tibetano no exílio do Dalai Lama para proibir o culto a Dorje Shugden: destruição de estátuas e imagens dessa deidade, campanhas de assinatura obrigando as pessoas a prometerem parar com seu culto, intimidação daqueles que se recusam a fazê-lo, expulsão de monges de seus monastérios e punições comparáveis àquelas de Hitler contra os judeus.

26 de abril de 1998 – Julian West, “Tibetanos acusam Dalai Lama
de traição espiritual”, The Daily Telegraph (Londres):

Nem tudo está bem no Shangri-la. Na sede do Dalai Lama na montanha, o canto dos monges tibetanos tem sido interrompido pelas vozes altas da discórdia.
Muitos dentre os 130.000 valentes membros da comunidade tibetana no exílio estão convencidos de que o Dalai Lama traiu seu sonho de um Tibete livre da ocupação chinesa.
Alguns chegam até a acusar “Sua Santidade” de sacrificar a independência tibetana em nome de “sua própria ideologia espiritual”, mudando constantemente de objetivo e fracassando em modernizar sua sociedade.

28 de abril de 1998 – Karen Butler, “Monges, monjas preparam protesto contra Dalai Lama em Nova Iorque”, United Press International (UPI) (Nova Iorque):

Seguidores do Dalai Lama vão fazer uma petição ao santo tibetano durante sua visita a Nova Iorque nesta semana, pedindo a ele que reverta sua proibição a uma prática budista tradicional, o que, segundo eles, constitui perseguição religiosa.

É a primeira vez que o Dalai Lama é confrontado com protestos de seus próprios seguidores enquanto visita os Estados Unidos.
O Dalai Lama, que chega sexta-feira, supostamente abandonou Dorje Shugden como sendo uma deidade protetora em 1976, depois que um oráculo afirmou ser essa deidade um espírito prejudicial ao bem-estar do líder.

Um elevado lama, Kundeling Rinpoche, disse que no sábado cerca de 150 monges e monjas planejam apresentar ao Dalai Lama uma petição contendo 15.000 assinaturas contra a proibição, atitude que segundo ele pode ser comparada ao Presidente Clinton proibir os cristãos de cultuarem a Virgem Maria.

30 de abril de 1998 – “Importante mudança no panorama político graças à convocação tibetana de uma campanha militante”, East Asia Today Reports, BBC World Service:

A morte de Thupten Nudup [sic], o monge de 50 anos de idade, que se autoimolou nessa semana em Déli, está, segundo analistas, produzindo uma mudança radical de atitude dentre os seguidores do líder espiritual exilado, o Dalai Lama.
Dezenas de milhares vieram às ruas de Dharamsala, a sede de seu governo no exílio, para prestar respeito ao homem morto.

30 de abril de 1998 – Nadine Brozan, “Budistas protestam contra Dalai Lama durante visita aos EUA”, New York Times:

O Dalai Lama pode trazer mensagens de paz consigo quando chegar a Nova Iorque hoje para iniciar uma turnê de 15 dias pelos EUA, mas ele enfrenta a ameaça de protestos por parte de uma coalisão de budistas que afirmam que ele os tem impedido de cultuar a deidade que reverenciam.

30 de abril de 1998 – Karen Michel, “Protesto contra o Dalai Lama no programa, levando tudo em conta”, National Public Radio, (USA):

O Dalai Lama, líder espiritual tibetano exilado, começa uma nova visita aos EUA.
Dessa vez ela poderá ser menos pacífica do que das vezes anteriores. Um grupo de budistas tibetanos dissidentes diz que a proibição da prática de uma deidade budista chamada Dorje Shugden equivale a opressão religiosa. A Coalisão Internacional Dorje Shugden também está criticando o Dalai Lama por considerar o conselho de um oráculo para decretar a proibição.

1.º de maio de 1998 – Costas Panagopoulos, “Culto zero: a deidade de que o Dalai Lama não gosta”, New York Magazine:

A Coalisão Shugden (…) coletou por volta de 15.000 assinaturas solicitando ao Dalai Lama que retire a proibição que, como afirma a Coalisão, causou violações dos direitos humanos – perseguição de casa em casa, destruição de livros de oração e imagens da deidade – dentre alguns de seus seguidores, principalmente em Dharamsala, Índia, sede do governo de exílio do líder tibetano. (…) também cita a declaração do conselho regional tibetano de que é contra a lei cultuar deidades não reconhecidas pelo governo, além do fato de o Gabinete Privado do Dalai Lama ter pedido o nome, local de nascimento e endereço dos fiéis de Dorje Shugden.
“O Dalai Lama se apresenta como uma figura no estilo de Gandhi”, diz Jampel, “mas ele age mais como se fosse um Hitler dos tempos modernos”.

3 de maio de 1998 – Cynthia Tornquist, “Dalai Lama recebido por manifestantes em Manhattan”, CNN TV:

Cerca de 130 fi de uma deidade budista protestaram domingo contra o Dalai Lama durante sua visita ao centro de Manhattan.
Fiéis de Dorje Shugden, uma deidade budista de 350 anos deidade, acusam o Dalai Lama de instigar uma proibição contra o culto da deidade que eles dizem ser uma das mais reverenciadas na religião budista.

Um porta-voz da coalisão internacional para acabar com a proibição diz que os fiéis estão sofrendo discriminação em muitas regiões budistas da Ásia. O grupo assegura que o Dalai Lama está violando os direitos humanos.

4 de maio de 1998 – John Zubrzycki, “Paciência dos tibetanos se esgota”, Christian Science Monitor International Section, página 1:

Enquanto Thupten Ngodup observava os três primeiros tibetanos em greve de fome sendo conduzidos às escondidas, ele decidiu que só havia um modo de lutar contra isso.
Assim, enquanto a polícia de choque indiana rodeou seu assentamento em Nova Déli na madrugada do dia seguinte para levar os três manifestantes que ficaram, o monge derramou querosene sobre si mesmo, riscou o fósforo e foi para trás dum cartaz que pedia a independência do Tibete.
Sr. Ngodup morreu dois dias depois, em 29 de abril (…).

Mesmo tendo passado 40 anos no exílio, o Dalai Lama permanece o símbolo indisputável do movimento tibetano no exílio. Mas cada vez mais exilados começam a questionar sua autoridade como líder político de sua luta. “Houve uma estagnação na luta tibetana causada pela indecisão da parte da liderança e a falta de vontade política para dar os passos necessários para obter resultados”, diz Lhasang Tsering, antigo presidente do Congresso da Juventude Tibetana.

5 de maio de 1998 – Neelesh Misra, “Tibetanos tentam tomar a
embaixada”, Associated Press (New Delhi):

Polícia indiana desfechou golpes de bastão sobre manifestantes que tentavam tomar a embaixada chinesa hoje para protestar contra o domínio de Beijing sobre sua terra natal. Cerca de doze de manifestantes ficaram machucados e sangrando.

Numa operação no estilo de uma guerrilha que pegou a polícia de surpresa, cerca de 200 manifestantes convergiram sobre a embaixada de diferentes direções, agitando faixas e bandeiras tibetanas.

Monges e monjas, em vantagem numérica, empurraram e trocaram socos com os policiais. Estes pediram reforços e atacaram a multidão com cassetetes de bambu.
“A autoimolação foi só o começo”, disse Pema Lhundrup, secretária adjunta do Congresso da Juventude Tibetana. “O sentimento de frustração está transbordando. Mais e mais tibetanos estão se preparando para morrer”.

11 de maio de 1998 – David Van Biema e Tim McGirk, “Monges
versus Monges”, Time:

O líder político e religioso do Tibete não colheu unicamente o prêmio Nobel da Paz em 1989 pelos seus esforços em prol de sua terra natal ocupada pelos chineses, mas também (como os anúncios de computadores Apple tentaram explorar) armazenou a vaga e confusa boa vontade de um mundo cínico e supercafeinado que ainda busca por fontes de verdade, calma e paz.
Mais desconcertante ainda é o fato de que durante sua chegada à cidade de Nova Iorque, na última quinta-feira, para dar início a um tour de 16 dias pelos Estados Unidos, o ícone da harmonia iluminada tenha sido recebido por manifestantes. E não qualquer tipo de manifestantes, mas sim monges e monjas budistas tibetanos portando cartazes onde se lia “Dalai Lama, por favor, nos dê liberdade religiosa” e acusando-o de suprimir a devoção pela deidade conhecida como Dorje Shugden.

11 de maio de 1998 – Kenneth Woodward, “Um arranhão no Lama de teflon”, Newsweek:

A reputação da Sua Santidade – apesar de trafegar constantemente entre políticos, arrecadadores de fundos e estrelas do cinema – sempre permaneceu tão alta quanto os Himalaias. Ele é o Lama de teflon.
Agora há um arranhão. No início de sua visita religiosa aos Estados Unidos, o Dalai Lama foi recebido na semana passada em Nova Iorque com protestos de um grupo de budistas acusando-o de intolerância religiosa, além de muitas outras coisas.

13 de julho de 1998 – Christopher Hitchens, “Sua Alteza Material”,
Salon Magazine:

O Dalai Lama manifestou recentemente seu apoio a testes termonucleares realizados pelo estado indiano, e o fez nos mesmos termos dos partidos chauvinistas que agora controlam os assuntos de estado. Os países “desenvolvidos”, ele disse, precisam entender que a Índia é um contendendor importante e não devem se ocupar com seus assuntos internos. Essa é uma declaração completamente “realpolitik”, tão insensível e banal, e tão oportunista que não mereceria nenhum tipo de comentário se tivesse vindo de outra fonte. (…)
O maior triunfo que as relações públicas modernas podem oferecer é o sucesso transcendente de ter nossas palavras e ações julgadas pela nossa reputação, e não ao contrário. O “líder espiritual” do Tibete tem desfrutado já faz bastante tempo de um status inexpugnável, tornando-se símbolo e sinônimo de valores sagrados e etéreos. Nunca saberei por que esse tipo de afirmação não abre os olhos das pessoas.

1.º de agosto de 1998 – Sara Chamberlain, “Deidade proibida – indignação com a banimento de Dorje Shugden pelo Dalai Lama”, New Internationalist:

Budistas fazem protesto durante recente visita do Dalai Lama aos Estados Unidos e Europa. Eles protestaram contra a proibição da prática da deidade de 350 anos de existência, Dorje Shugden, que eles dizem ser uma das mais reverenciadas na religião budista. Em 1996 o Dalai Lama anunciou que cultuar Dorje Shugden era proibido e explicou que seu oráculo, Nechung, tinha lhe dito que a deidade representava um perigo para sua segurança pessoal e o futuro do Tibete.

De acordo com P. K. Dey, um advogado de direitos humanos de Déli: “Aqueles que cultuam Dorje Shugden estão passando por uma tremenda perseguição (…). Os seguidores do Dalai Lama estão fazendo buscas de casa em casa. Por exemplo, em Clementown, Índia, a casa de uma família de devotos de Shugden foi apedrejada e então bombardeada com fogo. Cartazes de “Procura-se” descrevem indivíduos que se acredita serem líderes Shugden como os dez maiores inimigos de estado”.

Os devotos de Dorje Shugden dizem que a proibição e sua implementação estão em conflito direto com a constituição proposta de um Tibete livre apresentada pelo Dalai Lama em 1963. A constituição afirma que todos os grupos religiosos têm direitos iguais perante a lei e que todo tibetano tem o direito de pensamento, consciência e religião. Mas quando devotos de Dorje Shugden desafiaram a proibição, o governo tibetano no exílio afirmou que: “Conceitos como democracia e liberdade de religião são vazios quando o que está em jogo é o bem-estar do Dalai Lama e a causa comum do Tibete”.
Durante recentes vigílias pela paz, uma petição com 15.000 assinaturas foi entregue ao Dalai Lama afirmando a necessidade de que todas as tradições tibetanas floresçam. Manifestantes pediram a ele que assinasse uma declaração de liberdade da prática de Dorje Shugden. O Dalai Lama recusou-se.

24 de agosto de 1998 – Archana Phull, “Agenda anti-Shugden
acende conflito”, The India Express:

A “agenda anti-Shugden” da convenção a ser sediada pela Organização Cholsum Unida dos Tibetanos, em McLeod, Ganj, a partir de 27 de agosto, novamente acendeu o
conflito entre o Dalai e uma deidade. Mais de 120 membros da Sociedade Religiosa e de Caridade Dorje Shugden, com sede em Déli, decidiram adentrar na convenção sem convite, para obter “evidências das acusações da Cholsum sobre financiamento chinês dos dirigentes Shugden visando dividir a comunidade tibetana”.

2 de setembro de 1998 – Hema Shukla, “Protesto de dissidentes
religiosos reflete a cisão entre exilados tibetanos”, Associated Press:

NOVA DÉLI, Índia: Cerca de 150 manifestantes tibetanos acusaram o Dalai Lama de repressão religiosa na terça-feira, refletindo uma cisão dentro da sociedade tibetana no exílio, que até agora parecia coesa.
Os manifestantes eram devotos de Dorje Shugden, uma deidade tibetana cujo culto foi proibido pelo Dalai Lama em 1996. Eles usavam máscaras brancas durante a marcha de protesto para simbolizar o que chamaram de tentativa de silenciá-los.
Funcionários tibetanos deixaram transparecer que o Dalai Lama acredita que o espírito de Dorje Shugden está trabalhando contra ele, atrapalhando seu objetivo de recuperar a autonomia do Tibete em relação à China.
“Nós queremos que o mundo saiba que a sociedade tibetana tem problemas. Existe repressão religiosa,” disse Cheme Tsering, o porta-voz dos manifestantes (…).

15 de setembro de 1998 – Jim Mann, “CIA forneceu ajuda aos
exilados tibetanos nos anos 60, os arquivos mostram”, The LA Times:

Durante grande parte dos anos 1960, a CIA forneceu ao movimento tibetano no exílio cerca de 1,7 milhões por ano para operações contra a China, incluindo um subsídio anual de 180.000 dólares para o Dalai Lama, é o que mostram documentos da inteligência americana recém-divulgados.
O dinheiro para os tibetanos e para o Dalai Lama era parte do esforço mundial da CIA no auge da Guerra Fria para enfraquecer os governos comunistas, particularmente a União Soviética e a China. De fato, o comitê do governo americano que aprovou as operações tibetanas também aprovou a desastrosa invasão da Baía dos Porcos em Cuba.

Novembro de 1998 – Brendan O’Neill, “Dalai Lama, um ditador
religioso”, Living Marxism:

(…) Não há nenhum meio de expressão no Tibete ou no norte da Índia para que os devotos Shugden possam protestar contra o que está acontecendo. O único jornal independente na sociedade tibetana no exílio, o Democrata, foi obrigado a fechar em março de 1996, depois de ter criticado a política do governo no exílio (…).
Talvez não seja tão surpreendente que o Dalai Lama seja capaz de suprimir o debate dentro da sociedade tibetana. O mais assustador é que grande parte dos meios de comunicação ocidentais também tenha mantido silêncio com relação a isso. Parece que já faz muitos anos que o Dalai Lama está acima de qualquer crítica, como “o bom rapaz” predileto de Hollywood e da imprensa liberal, que não é capaz de fazer nada de errado.
“Não é politicamente correto criticar o Dalai Lama”, diz Dan Coote da fi britânica da Coalisão Dorje Shugden. Quando Coote enviou comunicados à imprensa no começo deste ano, um jornalista lhe disse que “eles não iriam tocar nessa história”, porque era “muito crítica” com relação ao líder budista. “Parece haver um duplo padrão”, diz Coote, “no qual alguns direitos são vistos como dignos de receber apoio, enquanto outros são ignorados”.

10 de janeiro de 1999 – “Devotos de Dorje Shugden excluídos de reunião com Dalai Lama”, The India Express:
Diferenças teológicas dentre budistas tibetanos chegaram a seu ponto culminante aqui no sábado, quando a chegada do Dalai Lama coincidiu com a de devotos de Dorje Shugden exigindo que deixem de ser reconhecidos como tibetanos para que possam requerir a cidadania indiana.

Antes da chegada do Dalai Lama em Hubli, onde vai conduzir uma série de aulas de religião, foi enviada uma nota a todas as comunidades tibetanas, afirmando que aos seguidores de Dorje Shugden, chamado de Dolgyal (um termo pejorativo), não seria permitido participar do seminário. Passes foram emitidos somente para as pessoas e monges que entregassem uma declaração por escrito de que eles não eram seguidores da deidade.

10 de março de 1999 – Iain S. Bruce, “O lado negro do Dalai
Lama”, The Scotsman:

Para grande parte do mundo ocidental, ele é a corporificação da bondade e da paz, uma figura gentil com vestes, possuindo grande sabedoria e ilimitada virtude. Festejado por políticos, estrelas pop e de Hollywood, o aparentemente inquestionável líder espiritual e político do movimento para libertar o Tibete sempre pareceu ser como uma bela e segura aposta na arena popular povoada por vigaristas e charlatães.
As rachaduras na imagem impecável, entretanto, começam a aparecer e acusações estão sendo feitas com crescente frequência, ligando o laureado do Nobel de 1989 a repressão religiosa, despotismo e assassinato.

“O Dalai Lama possui duas faces. No Ocidente ele cria entusiasticamente uma atmosfera de liberalismo e diálogo aberto; e no Oriente ele trata as pessoas como um monarca trataria seus súditos”, diz Lama Kundeling, o abade do monastério Atisha em Bangalore e membro respeitado da comunidade tibetana exilada. “Não há liberdade para nós – ele possui monopólio total sobre todos assuntos religiosos e seculares e dissemina confusão e aflição entre o povo tibetano”.

5 de janeiro de 2001 – “Sobre o Dalai Lama e a caça às bruxas”,
Frontline (Revista Nacional da Índia):

Qual foi o impacto da proibição?
Kundeling Rinpoche: Grave. Chamo isso da Inquisição tibetana levada por todo o mundo, mas em especial na Índia. Por exemplo, a casa de cada tibetano foi vasculhada, pinturas e imagens de Dorje Shugden foram pisoteadas, dessacralizadas, queimadas ou destruídas publicamente. As casas de pessoas proeminentes – seguidores de Dorje Shugden – foram atacadas durante a noite, e ameaças de morte foram feitas a todos aqueles que não seguiram as ordens ditadas pelo Dalai Lama. Certo número de monges foi expulso de seus monastérios no assentamento de Mundgod por terem participado de uma marcha de protesto pacífica organizada por mim em 15 de maio de 1996 no assentamento de Mundgod. Quando a Sociedade Dorje Shugden foi estabelecida em 15 de abril de 1996, em Déli, o Dalai Lama e seus assim chamados ministros utilizaram-se de ameaças, dinheiro e da burocracia indiana para fechá-la à força.

18 de setembro de 2003 – Laurie Goodstein, “Dalai Lama diz que o terror talvez precise de uma resposta violenta”, New York Times:

O Dalai Lama, o ganhador do Prêmio Nobel da Paz e um dos proeminentes advogados da não violência no mundo, disse numa entrevista ontem que talvez seja necessário lutar contra terroristas usando a violência e que era “muito cedo para dizer” se a guerra do Iraque foi um erro.
“Sinto que somente a história irá dizer”, ele disse. “Terrorismo é o pior tipo de violência, portanto, precisamos investigá-lo, temos que tomar contramedidas”.
O Dalai Lama falou em sua primeira visita à cidade de Nova Iorque desde o ataque terrorista em 2001. Ele está em sua última parada de uma turnê pelos Estados Unidos onde fi aparente seu duplo papel como professor budista e chefe de estado.

10 de outubro de 2003 – Colman McCarthy, “O Dalai Lama não é Gandhi”, National Catholic Reporter:

Se você alguma vez já suspeitou de que o Dalai Lama é um frouxo, não tenha mais dúvidas, pois ele é.
Recentemente, no final de uma turnê de conferências pelos Estados Unidos que atraiu multidões como em apresentações de rock nas maiores cidades, o budista tibetano de 68 anos deparou-se com um inoportuno repórter do New York Times que lhe fez perguntas sobre terrorismo e a guerra no Iraque. Numa matéria intitulada “Dalai Lama diz que o terror pode precisar de uma resposta violenta”, o monge disse: “Terrorismo é o pior tipo de violência, portanto, precisamos investigá-lo, temos que tomar contramedidas”.

Palavras tranquilizadoras para os fazedores de guerra de Bush, já que eles buscam obter 87 bilhões para tomar contramedidas para corrigir outras contramedidas anteriores que fracassaram. Nenhuma quantidade de incenso budista fumegado sobre as palavras do Lama pode esconder seu significado: matar pessoas para solucionar conflitos. Aqui temos mais um líder religioso que é um pacifista entre guerras, algo semelhante a ser um vegetariano entre refeições (…).
O Dalai Lama entra para uma longa lista de pessoas que, no jargão das celebridades, são famosas por serem famosas. Ele é um animador, astro, um showman completo, com suas vestes cor de açafrão e seus ombros de fora. Nada de errado com isso. Um gracejo é um gracejo. Mas ele não está nem um pouco próximo de figurar na companhia de Gandhi que afirmou, “Eu não acredito em nenhuma guerra”, ou da Igreja dos Irmãos Menonitas ou dos Quaquers, que não ocultam suas convicções antibélicas nem muito menos esperam pela história.

23 de maio de 2007 – Michael Backman, “Por detrás do manto
sagrado do Dalai Lama”, The Age (Melbourne):

Raramente algum jornalista desafia o Dalai Lama.

Parte se deve ao fato de ele ser tão encantador e envolvente. A maior parte das histórias publicadas sobre ele aborda sua pessoa tão superficialmente quanto ele costuma fazer quando se utiliza de uma risada à toa e uma parábola pitoresca como alternativas a respostas difíceis. Mas esse é o homem que advoga maior autonomia, presumivelmente com ele na posição de chefe de estado, para milhões de pessoas que agora são cidadãos chineses. Por que então não fazer com que ele preste contas enquanto figura política? (…)
O que efetivamente o Dalai Lama conseguiu para os tibetanos que vivem no Tibete?
Se sua meta tem sido a independência do Tibete ou, mais recentemente, sua maior autonomia, então, ele tem sido um fracasso total.
Ele tem mantido o Tibete na primeira página dos veículos de comunicação por todo o mundo, mas com que finalidade? Sua principal conquista parece ser conseguir artigos de revista e jornal que o tornaram uma celebridade. Possivelmente, se tivesse permanecido quieto, menos tibetanos teriam sido torturados, mortos e reprimidos pela China.

5 de fevereiro de 2008 - Jean Luc Melanchon, político francês no Olympic Protests, Telematin, France 2 (Tv francesa):

Jean Luc Melanchon: “Se as pessoas desejam protestar contra os jogos olímpicos, isso quer dizer que eles aceitam o que o Dalai Lama reinvindica com relação ao Tibete. Mas precisamos olhar com cuidado e não ser ingênuos. Acho algo realmente inacreditável ver como franceses, que discutiriam calorosamente a favor da separação entre Estado e Igreja, achem aceitável que exista uma teocracia no Tibete (…).
Sabemos como essas coisas funcionam. Não é simplesmente um caso de uma associação ou uma ONG. Existem interesses estratégicos em jogo. O Kosovo não queria a independência, mas terminou com uma base militar americana. Portanto, não vamos fingir que somos ingênuos e dizer que isso nada tem a ver com questões de geopolítica e geoestratégia. As pessoas estão sendo manipuladas.

6 de março de 2008 – Brendan O’Neill, “Por que a tibetefilia não vai levar ao Tibete livre”, versão editada, primeiramente publicada em Comment is Free, dia 6 de março de 2008 (disponível em: www. spiked-online.com/index.php/site/article/4852/, acesso em: 10 de março de 2008):

Ao mesmo tempo, o apoio irrestrito ao Dalai Lama por parte dos defensores [de um Tibete livre] leva a crer que eles veem os tibetanos como um povo imaturo que precisa de uma figura divina para liderá-los. O Dalai Lama nunca foi eleito por ninguém, ao invés disso, num processo que faria a Casa dos Nobres Inglesa parecer quase moderna e democrática (e disse “quase”) ele foi escolhido a dedo por uma pequena seita de monges que acreditavam que ele representava uma das inumeráveis reencarnações da entidade budista Avalokiteshvara.

De fato, alguns autores especializados no Tibete salientaram que a idealização do Dalai Lama por ativistas ocidentais e, claro, por alguns tibetanos, pode de fato prejudicar o desenvolvimento da democracia no Tibete. Em seu livro The Tibetan Independence Movement: Political, Religious and Gandhian Perspectives (Routledge, 2002), Jane Ardley escreve: “fica aparente que é o papel do Dalai Lama como autoridade espiritual última que está impedindo o processo de democratização política. A suposição de que ele é, do ponto de vista espiritual, possuidor de valores morais corretos significa que qualquer desafio à sua autoridade política pode ser interpretada como antirreligiosa”.

Ao elevar o Dalai Lama à posição de representante inquestionável do povo tibetano, os ativistas pró-tibete estão contribuindo para asfixiar “a oportunidade de que haja oposição e expressão de pontos de vista diferentes”, o próprio espírito democrático. De fato, alguns grupos budistas tibetanos que desafiaram ou questionaram a autoridade do Dalai Lama foram denunciados e suprimidos pelos partidários do Dalai Lama.

21 de março de 2008 – Somini Sengupta, “Alguns exilados tibetanos
rejeitam o Caminho do Meio”, The New York Times:

Desde 10 de março, o Dalai Lama tem sido fiel ao seu guia do “estilo do meio” e tem se mostrado notavelmente afável, pelo menos em público, mesmo quando a China o acusava de manipular a revolta e o chamava de “demônio com cara de humano” (…).

Mesmo assim, um pequeno grupo de exilados tibetanos se disse incomodado com o fato de que o “caminho do meio” não tenha resultado em nada depois de quase 30 anos. Eles pediram para que houvesse um boicote aos jogos olímpicos, queimaram bandeiras chinesas e se recusaram a cancelar uma marcha daqui até Lhasa, capital do Tibete, que ele classificou de pouco prática para se opor a um estado poderoso, capaz de valer-se de sua força.

Surgiu então a questão de que talvez estivesse o Dalai Lama, que já passou 49 anos aqui na Índia e construiu um dos movimentos de exilados mais poderosos do mundo, desconectado de seu próprio povo.

31 de março de 2008 – Pankaj Mishra, “Homem Sagrado: o que o
Dalai Lama representa de verdade?”, The New Yorker Magazine:

Já que fala inglês mal e frequentemente colapsa em prolongados ataques de riso, o Dalai Lama também pode dar aos jornais e revistas a impressão de não ser “a lâmpada mais brilhante da sala”, como Pico Iyer relata ter ouvido de um jornalista.

Sua aparência simples de um monge budista é um convite ao ceticismo e até mesmo desdém. “Eu já ouvi cínicos que diziam que ele é um velho monge muito politizado que vai arrastando os pés em sapatos Gucci”, disse Rupert Murdoch. Hitchens acusa o Dalai Lama de afirmar ser um “rei hereditário designado pelo mesmíssimo céu” e de impor a regra “de uma pessoa manda” em Dharamsala, a cidade nos Himalaias indianos que serve como capital para mais de
150.000 tibetanos no exílio. (…)
Seus críticos podem ter razão: o cidadania do Dalai Lama na cosmópole mundial parece surgir às custas de seu carente povo.

6 de maio de 2008 – Venkatesan Vembu, “O Caminho do Meio do
Dalai Lama fracassou”, DNA (Índia):

Jamyang Norbu: Agora há vozes muito fortes no meio do povo tibetano, especialmente entre os jovens (…). Muitos deles, que estão vindo do Tibete para o exílio, não são tão respeitosos com o governo tibetano no exílio. Eles agora dizem que a política do governo tibetano – e o enfoque do “Caminho do Meio” do Dalai Lama – é um fracasso. De certa forma, o Dalai Lama está desesperado. Ele não compreende a natureza da política moderna – e penso que ele não entenda de regimes totalitários.

17 de maio de 2008 – Stefan Kornelius, “Um político em vestes de
monge”, Suddeutsche Zeitung (Alemanha):

Já nas primeiras horas de sua viagem através da Alemanha, o líder espiritual dos tibetanos, o Dalai Lama, não quis emitir sequer uma palavra inadequada. Em inúmeras entrevistas, seguido a cada passo por câmeras, e em seus discursos para seguidores e crentes, ele pacientemente repetiu as mesmas velhas alegações e afirmações: não, essa não é uma visita política, é simplesmente a de um humilde monge, é sobre religião e autonomia cultural para o povo tibetano e sobre proteção ao meio ambiente. A unidade da China não está sendo desafiada e todos seus esforços são baseados na não violência.

Quem quer que examine esse fluxo de palavras buscando sua substância política rapidamente vai entender que, de acordo com a Constituição do governo tibetano no exílio, aprovada no ano tibetano de 2218 (1991), o Dalai Lama é o senhor do executivo e do legislativo. Nada acontece no universo do exílio tibetano sem que ele aprove.

17 de maio de 2008 – “Pare de mentir”, Suddeutsche Zeitung
(Alemanha):

Soa como um grito de torcida dentro de um estádio, vindo da arquibancada diametralmente oposta, mas na verdade é uma acusação: “Dalai Lama, pare de mentir”. Muitas e muitas vezes, os 300 manifestantes com vestes cantam a frase. Motoristas baixam suas janelas, talvez não possam acreditar no que estão ouvindo. Existem pessoas fora da China, até mesmo tibetanos, que têm algo contra o Dalai Lama? (…)
Isso não tem a ver com política, mas sim com liberdade religiosa. Nada está sendo pedido a ele, a não ser aquilo que ele mesmo está pedindo aos chineses, mas ninguém está interessado no que ele realmente está fazendo. “Aqui o Dalai Lama se mostra como um líder espiritual. Queremos que as pessoas olhem atrás da máscara”.

18 de maio de 2008 – Mariam Lau, “O rei risonho sem país”, Die Welt am Sonntag (Alemanha):

Todas as vezes em que o Dalai Lama aparece – e ele aparece bastante em todas as partes –, um supermercado espiritual imeditamente surge. Por exemplo, em frente ao Palácio dos Congressos em Bochum, a segunda parada em sua longamente planejada turnê pela Alemanha há estantes vendendo almofadas de leões da neve tibetanos, base para mouse com seu rosto, incenso, gorros de lã e toques de celular “Tibete livre”. Do outro lado da rua, formando uma multidão dourada e vinho, estão os monges da Associação Shugden do Ocidente acusando-o de mentir: “Dalai Lama,
pare com a discriminação!”

De fato, alguns anos atrás, num ato incomum de repressão política e religiosa, o líder religioso dos tibetanos proibiu o culto à deidade budista Dorje Shugden, que ele considera retrógrado e sedento de sangue. (…)

Ele não é contra ter sua cara em proteção de tela de computador. Ele escreve alegremente prefácios de livros vergonhosos e transformou Hollywood em um templo de caráter duvidoso. No final do dia, tudo que ele fez foi relações públicas. Se os palestinos tivessem um representante como ele ao invés de líderes dedicados à autodestruição, provavelmente já teriam recuperado seu país muito tempo atrás. Mas o Dalai Lama não conseguiu quase nada para seu povo até agora. Nenhum chefe de estado influente do mundo até agora deu apoio claro e efetivo à sua campanha para autonomia cultural.

18 de maio de 2008 – de “Petições de direitos contra o Dalai Lama”,
The Telegraph (Calcutá):

Shimla, 17 de maio: Uma associação sem fi s lucrativos apresentou uma petição de violação dos direitos humanos à Corte Suprema em Déli contra o Dalai Lama e Samdong Rinpoche, o Primeiro Ministro do governo tibetano no exílio.
“O Dalai Lama está chantageando os praticantes de Dorje
Shugden para que abandonem suas crenças (…)”, diz a petição.

20 de maio de 2008 – Brendan O’Neill “O Dalai Lama é um ditador
religioso?”, Spiked Magazine:

Em seu livro O movimento da independência tibetana: perspectivas políticas, religiosas e gandianas, Jane Ardley argumentou que, em termos do desenvolvimento da vida política interna do Tibete em Dharamsala, “[Fica] claro que é o papel do Dalai Lama como autoridade espiritual última que está impedindo o processo de democratização. A suposição de que ele possui os valores morais corretos do ponto de vista espiritual significa que qualquer contestação a sua autoridade política pode ser interpretada como antirreligiosa.” (…)

A negação do Ocidente com relação a alguns dos supostos abusos de poder do Dalai Lama, ou pelo menos o apoio incondicional ao Dalai Lama e a tudo o que ele faz, mostra o papel que ele representa para muitas celebridades, comentaristas e políticos ocidentais nos dias de hoje: ele é uma caricatura “do mocinho”, gargalhando, puro e correto, alguém que aparentemente deveria ser aplaudido incondicionalmente por estar se opondo aos “malvados chineses”. Todos os pontos negativos do Dalai Lama – suas origens no asfixiante medievalismo do Tibete dos anos 30; suas práticas arcaicas; seu desdém por “conceitos como democracia e liberdade religiosa”; o apoio recebido da CIA durante a Guerra Fria contra a China – são simplesmente ignorados.

22 de março de 2008 – Mario Cacciottolo, “Paz e cartazes saúdam
Dalai Lama”, BBC News:

Diametralmente, do outro lado da rua, está um grupo de monges budistas cuja queixa é que o Dalai Lama estabeleceu uma proibição do culto da deidade budista Dorje Shugden, especialmente das preces feitas a ela.
A discussão é complicada, mas basicamente Sua Santidade diz que essa deidade em particular é não budista em sua natureza.

Os seguidores discordam e, de acordo com Kelsang Pema, monja que faz parte do protesto, o que eles desejam é apenas “uma conversa significativa” com o Dalai Lama. “O único propósito de Dorje Shugden é ajudar as pessoas a desenvolverem as mentes budistas de amor, paz e compaixão”, ela disse.
“Nós lhe enviamos faxes, e-mails e cartas, pedindo para falar com ele sobre esse assunto, mas tudo isso foi ignorado. O próprio Dalai Lama praticou da forma como fazemos até os
seus 50”.

23 de maio de 2008 – Extraído do The Metro (Londres):

Em seu tour pela Grã-Bretanha, Dalai Lama se deparou com múltiplos protestos ontem quando manifestantes expressavam sua oposição às suas crenças religiosas e políticas. Enquanto o líder religioso falava dentro do Royal Albert Hall, centenas de pessoas lotavam as ruas do lado de fora.
Eles portavam cartazes onde se lia “Dê liberdade religiosa” e “Hipócrita”.

23 de maio de 2008 – Ann Treneman, “Teatro do Dalai Lama
quando Westminster vê a Luz”, The Times (Londres):

O Dalai Lama chegou a Westminster num Mercedes prata acompanhado por três outros Mercedes pratas. Sua Santidade pode estar perto da luz celestial, mas não possui luz de viagem (…).
É preciso que seja dito que o Sr. Lama é sucesso de bilheteria. Ele agrada as multidões ao ponto de eclipsar todas as estrelas. Ele começou tirando a bolsa vermelha que sempre carrega e que eu imaginava que continha algo sagrado ou pelo menos o sentido da vida.
Como um mágico, o Sr. Lama nos mostrou o conteúdo: primeiro retirou uma viseira vermelha (que combinava perfeitamente com suas vestes) e colocou-a num ângulo livre de sua cabeça raspada. Depois nos mostrou sua caixa de óculos com grande deleite. Ele tirou um celofane envolvendo um pequeno item: “Uma bala”, ele gritou, rindo.
Depois começou a divagar: “Algumas vezes no avião, o café da manhã é muito pouco. Não somente necessito qualidade, mas também quantidade porque como monge budista não janto. É por isso que sempre carrego comigo um pouco de pão”.

Foi lamentável quando tivemos que parar de jogar o “o que há na sua bolsa” e tivemos que falar de direitos humanos. Para começar o Sr. Lama fez muitas reverências (que consegue fazer sentado). (…)
Depois ele foi embora envolto num torvelinho vermelho. Eu lhes digo, se ele não fosse um respeitado líder espiritual, ele seria um grande ator desajeitado. Ele é um Lama teatral, sem sombra de dúvidas.

27 de maio de 2008 – John Hess, “Protestos contra o Dalai Lama”,
BBC News:

Esses seguidores [pertencentes à Associação Shugden do Ocidente] vieram a Nottingham hoje para expressar seu descontentamento sobre sua proibição de uma antiga prece budista.
Sua visita [a do Dalai Lama] a Nottingham não somente tem sido politicamente controversa, mas essa manifestação evidencia as controvérsias existentes dentro da fé budista com relação a seu estilo de liderança.

29 de maio de 2008 – Brendan O’Neill, “Abaixo o Dalai Lama”, The Guardian (Londres):

Acaso já existiu uma figura política mais ridícula que a do Dalai Lama? Esse é o “humilde monge” que abre mão de todos os bens mundanos para viver uma vida simples, vestindo roupas cor de açafrão. Ainda assim, em 1992 ele foi capa da Vogue francesa, a bíblia da decadente classe alta (…). O Dalai Lama diz que ele quer a autonomia e a independência política do Tibete, mas mesmo assim permite que os poderes do ocidente, sedentos por humilhar a China, utilizem-no como seu instrumento. Entre o final dos anos 1950 e 1974, ele presumivelmente recebeu cerca de 15.000 dólares mensais ou 180.000 dólares por ano da CIA.

A bem da verdade, ele é um produto do esmagador feudalismo de um arcaico Tibete pré-moderno, onde uma elite de monges budistas tratava as massas como servos e as punia brutalmente sempre que elas saíam da linha.
O Dalai Lama exige liberdade religiosa, no entanto, é ele quem persegue um grupo religioso que cultua a deidade chamada Dorje Shugden.

30 de maio de 2008 – Matt Wilkinson, “Última hora: centenas de pessoas fazem protesto durante visita do Dalai Lama”, The Oxford Times (on-line), Oxford, Inglaterra:

Por ocasião da conferência do Dalai Lama no Teatro Sheldonian, cerca de 1000 membros da Associação Shugden do Ocidente reuniram-se do lado de fora. Os manifestantes cantavam em coro “Dalai Lama, pare de mentir” e outros slogans quando ele chegava para a conferência às 9:30 da manhã. O coro atingiu seu ponto culminante quando o Dalai Lama chegou num veículo dirigido por um chofer e foi escoltado para dentro do prédio. A Associação afirma que o líder proibiu uma prece budista tradicional e que seus seguidores estão abusando dos direitos humanos de praticantes Shugden (sic).

5 de junho de 2008 – Michael Backman, “A venda do Tibete ao mundo”, The Age (Melbourne):

Por que o Dalai Lama está tão empenhado em atacar os praticantes de Dorje Shugden? Uma razão pode ser que ele realmente acredita ser errada a prática de Shugden. Outra parece vir do seu desejo de unir as quatro tradições do budismo tibetano – a Nyingma, Sakya, Kagyu e Gelug. Esse tem sido um dos problemas do Dalai Lama. Ele não é o chefe do budismo, ele nem sequer é o chefe do budismo tibetano. Tradicionalmente, os Dalai Lamas são da Tradição Gelug. Mas desde que deixou o Tibete, o atual Dalai Lama tentou liderar todos os tibetanos, em especial os tibetanos que vivem fora do Tibete.
Para melhorar sua autoridade, ele procurou fundir as quatro tradições em uma única e se colocar como seu chefe. Mas Dorje Shugden representa um grande empecilho.

11 de junho de 2008 – SBS Worldnews Australia:

O Dalai Lama chegou à Autrália hoje para receber calorosas boas-vindas por parte de seus seguidores, mas foi qualificado como “mentiroso” e “hipócrita” por cerca de 50 manifestantes monges e monjas budistas.
“Ele é um hipócrita e é muito triste dizer isso de um líder religioso”, afirmou a porta-voz da Associação Shugden do Ocidente, Kelsang Pema. (…) “Basicamente, ele não está praticando o que prega. Ele ensina amor e compaixão, mas apoia atrocidades”.
Ela disse que a campanha “incendiária” do Dalai Lama contra uma deidade budista chamada Dorje Shugden resultou em milhares de expulsões de monges de seus monastérios; partidários negaram-lhes comida, remédios e vistos de viagem; famílias foram ostracizadas e templos Shugden destruídos.

12 de junho de 2008 – John Stapleton, “Adoração e protestos dão
as boas-vindas ao Dalai Lama”, The Australian:

Enquanto multidões iam ao encontro do Dalai Lama ontem em Sydney no começo de sua visita de seis dias, também havia, como se era de esperar, uma multidão de manifestantes que o acusavam de ser um mentiroso e hipócrita.
Só que, em vez de os dissidentes serem cidadãos chineses, o grupo que o denegria era formado de companheiros budistas, com quase nenhuma face asiática dentre eles.
Cerca de 100 budistas usando as mesmas roupas escarlates como as do Dalai Lama permaneceram do lado de fora do Sydney Showground, em Homebush, cantando “Dalai Lama mentiroso” e agitando cartazes que pediam liberdade religiosa, enquanto o líder espiritual budista pregava amor e compaixão do lado de dentro.
“Ele é um hipócrita e é muito triste dizer isso de um líder religioso”, afirmou a porta-voz da Associação Shugden Ocidental, Kelsang Pema. “Ele não está praticando o que prega. Ele está aqui ensinando sobre amor, compaixão, mas, ao mesmo tempo, endossa, basicamente, atrocidades humanas”. A Sra. Pema disse que a campanha “incendiária” do Dalai Lama contra a deidade budista chamada Dorje Shugden resultou em milhares de expulsões de monges de seus monastérios, em negativa de comida, remédios e vistos de viagem pelos partidários, em famílias serem ostracizadas e em templos Shugden destruídos. “Fazemos parte da corrente principal do budismo tibetano, mas ele nos faz passar por dissidentes simplesmente porque um dia mudou de opinião”, ela disse. “Ele proibiu uma prece que ele mesmo praticou durante metade de sua vida”.

15 de junho de 2008 – “A oposição tibetana”, The Sunday
Programme, Nine Networks (TV australiana):

Kelsang Lhachog: “Uma das características do Dalai Lama é que, com sua fantástica reputação, ele lançou um feitiço sobre as pessoas deste mundo, de forma que elas não questionam suas ações e acham difícil acreditar que ele possa cometer qualquer erro ou estar errado com relação a qualquer coisa. Ele diz palavras bonitas, mas ninguém confere se suas ações estão de fato de acordo com as palavras que ele diz. Se você realmente vir o que está acontecendo na comunidade de que ele é o líder, vai perceber muito claramente que ele é um ditador (…).
Acredito que ele é um líder político fantasiado de líder espiritual e isso é algo que entendemos bem no Ocidente, que não é apropriado misturar essas coisas. Todos sabemos: não misture política e religião, porque senão tudo fica muito confuso. Ele misturou esses dois papéis e está usando seu
poder político para impor suas crenças religiosas aos outros”.

13 de julho de 2008 – Tony Nauroth, “Centenas protestam contra
Dalai Lama”, The Express Times, USA:

Bethlehem [Pennsylvania, USA]: Aqueles que buscarem a iluminação com o Dalai Lama no sábado na Lehing University’s Stable Arena, primeiro terão que passar por 300 monges e monjas protestando contra um decreto enigmático instituído há 40 anos pelo líder tibetano no exílio, que, segundo eles, viola sua liberdade religiosa.

18 de julho de 2008 – David Van Biema, “Os adversários políticos
do Dalai Lama”, Time Magazine, USA:

Na tarde de quinta-feira, após um ensinamento do Dalai Lama no Radio City Music Hall de Nova Iorque, um grupo de 500 ou mais membros da audiência gritou e cuspiu em um grupo misto de cerca de 100 pessoas, tanto tibetanos como ocidentais, que faziam uma manifestação pacífica contra o elevado Lama. A polícia julgou prudente intervir rapidamente a cavalo e abrigou o pequeno grupo dentro de ônibus para sua própria segurança. A multidão pró-Dalai Lama também jogou dinheiro em seus adversários, um insulto indicando que eles haviam sido comprados (presumivelmente pelos inimigos do elevado Lama em Beijing). Como disse uma dos manifestantes anti-Dalai Lama, Kelsang Pema, que é britânica, possui um nome tibetano e é a porta-voz da Associação Shugden do Ocidente: “Se isso é o que os fiéis do Dalai Lama fazem conosco na América, vocês podem imaginar o que eles teriam feito em qualquer outro lugar?”

8 de agosto de 2008 – “Os demônios do Dalai Lama”, France 24
(documentário da TV francesa):

Dalai Lama: “Esses monges precisam ser expulsos de seus monastérios. Se eles não estão satisfeitos, diga a eles que o Dalai Lama em pessoa pediu que isso fosse feito e que é da máxima urgência”.
O discurso foi um momento-chave na história do budismo tibetano e o começo de uma cisão capaz de excluir os quatro milhões de tibetanos seguidores de Shugden. Algumas semanas depois do discurso do Dalai Lama, os monges Shugden não mais podiam entrar em seus monastérios. Eles se reagruparam fora das muralhas da cidade e meditaram sobre a razão pela qual o Dalai Lama os excluiu.
“O Dalai Lama realmente pode proibir uma religião por completo?”, pergunta um deles. “Nós estamos certos, ele é quem está sendo incoerente. Por um lado, ele está sempre pregando sobre liberdade religiosa e compaixão, mas, por outro lado, ele nos proíbe de cultuar a deidade que escolhemos”, diz outro monge.
As fotos de líderes Shugden são pregadas nas paredes da cidade, classificando-os de traidores. Cartazes na entrada de lojas e hospitais proíbem a entrada de seguidores Shugden. É o apartheid na terra do budismo.

28 de agosto de 2008 – Meindert Gorter, “Por que o Dalai Lama
baniu Dorje Shugden?”, The New Statesman:

Gradualmente a pressão sobre os praticantes de Dorje Shugden foi piorando. Seguidores fanáticos começaram a destruir estátuas da deidade: a solidariedade social existente entre tibetanos deixou de existir. Mesmo no próprio Tibete, onde a reconstrução de templos está a todo vapor e as pessoas agora desfrutam de uma nova liberdade religiosa, essa proibição levantou suspeitas. Praticantes de Dorje Shugden foram acusados de ser parte da “seita de Dorje Shugden” e excluídos da sociedade. A Associação Dorje Shugden foi fundada, um grupo ad hoc trabalhando unido para fazer oposição à proibição – não com o intuito de salvar a deidade iluminada do mal, mas para ajudar milhares de pessoas a não serem proscritas.

Contudo, os numerosos apelos e protestos em todo mundo em nada ajudaram. O Dalai Lama não deu respostas e recusou todo tipo de contato. Se você pensa que o Dalai Lama é responsável por produzir somente bons sentimentos, como a maioria dos ocidentais acreditam, você tem que fechar os olhos com força, para conseguir imaginar essa realidade muito menos romântica.
Em discursos pronunciados na Índia em janeiro de 2008, ele impôs a proibição com mais rigor do que antes.

30 de setembro de 2008 – “Dalai Lama: o demônio interior”, Al Jazeera (documentário televisivo):

Com a ajuda do monge rebelde Kundeling Rinpoche, [a Associação Dorje Shugden] está levando o mais famoso ex-praticante de Shugden, o Dalai Lama em pessoa, ao tribunal.
Kundeling Rinpoche: “Portanto, não há democracia. Esse homem, o Dalai Lama, fala sobre democracia, fala sobre compaixão, fala sobre diálogo, fala sobre compreensão, fala sobre soluções, mas para nós não há solução. Não há diálogo. Não há compreensão. Não há compaixão. Isso porque para sua percepção não somos seres humanos. Somos unicamente maus. Somos maus e somos agentes dos chineses. Isso é o que está acontecendo. É simples assim”.

Faltando poucos dias para a audiência do Dalai Lama na corte suprema, Kundeling e Thubten se encontram com seu advogado.
Shree Sanjay Jain (advogado dos direitos humanos): “Trata-se seguramente de um caso de discriminação religiosa quando você afirma que uma deidade em especial não deve ser cultuada e quando você tenta excomungar aqueles que desejam cultuá-la da corrente principal do budismo. É discriminação do pior tipo”.

9 de outubro 2008 – “Seguindo as pegadas do Dalai Lama”, Envoye
special, France 2 (documentário da televisão francesa):

Dalai Lama: “Não desejo mais confusão nos monastérios. E com relação àqueles que não estão satisfeitos, diga-lhes que o Dalai Lama aprova as expulsões prescritas pelos abades nos templos.”
Repórter: “Pela primeira vez, descubro uma face autoritária – ele próprio, o sábio tibetano está pedindo a exclusão dos fiéis. Por que e quem é essa deidade? Para entender isso, vou encontrar-me com seguidores de Dorje Shugden (…)”.
Monge: “Essa deidade nunca dividiu os tibetanos. Isso é falso. É o Dalai Lama que nos dividiu, proibindo a prática de Dorje Shugden. Antes, tudo ia bem. A comunidade vivia em paz”.
Repórter: “Atualmente, os seguidores de Shugden são expulsos de seus monastérios e suas fotos são exibidas nas ruas. Uma verdadeira caça às bruxas foi deflagrada no sul da Índia”.

7 de março de 2009
– David Eimer, “Dalai Lama é muito suave
com a China, é o que dizem exilados tibetanos”, The Daily Telegraph
(Londres):

Cinquenta anos depois de seu exílio na Índia, o Dalai Lama está enfrentando uma crescente onda de insatisfação baseada na alegação de que seu estilo anticonfronto é simplesmente suave demais.
Grupos militantes tibetanos estão cada vez mais desafi
a autoridade do líder espiritual à medida que se aproxima o aniversário, na terça-feira, da fracassada revolta contra o controle chinês que o levou a fugir para Dharamsala, no sul da Índia.
Cientes de que meio século já se passou e de que a independência do Tibete ainda não foi obtida, eles fazem menção às suas políticas “fracassadas” e falam em substituir o cabeça da campanha para o Tibete livre por um líder um pouco mais agressivo.

“O Dalai Lama tem tentado resolver a situação através do diálogo, mas, pessoalmente, eu acho que o diálogo não está nos levando a lugar nenhum. A situação do Tibete está piorando”, disse Dhondup Dorjee, o vice-presidente do Congresso da Juventude Tibetana (…).
As diferenças existentes entre as forças no exílio obrigaram o Dalai Lama, em novembro passado, a convocar uma reunião especial com os mais importantes grupos em Dharamsala, local onde ele e o governo tibetano no exílio estabeleceram seu quartel general. “Quando o Dalai Lama convocou essa reunião, ele disse ‘Minha atuação fracassou, digam-me o que fazer agora’”, disse a Senhora Tethong, que estava presente ao encontro.
Porém, o encontro foi controlado pelo governo tibetano no exílio e eles não iriam dizer a ele “Ah, você fracassou”, portanto, no final acabou por apoiar Sua Santidade.

26 de março de 2009 – Ministro da Economia da África do Sul, Trevor Manuel, sobre o Dalai Lama, IOL (África do Sul):

Dizer algo contra o Dalai Lama é, em algumas partes, equivalente à tentativa de atirar no Bambi, disse o ministro.
Coloquemos as cartas na mesa. Quem é o Dalai Lama? Ouvi-o ser descrito como um deus. Ouvi-o ser descrito como um Buda.
Será ele somente o líder espiritual dos budistas no Tibete, ou ele é aquele que no dia 28 de março de 1959 estabeleceu um governo no exílio da mesma forma que Taiwan foi estabelecida para se opor à realidade de uma China única?
Manuel disse que devíamos olhar para a história do Tibete,onde os lamas eram “senhores feudais”.

A razão pela qual o Dalai Lama deseja estar aqui… é para fazer um pronunciamento global sobre a separação do Tibete da China e ele deseja fazer isso na terra livre da África do Sul. Estou seguro de que ele seria bem-vindo em qualquer outro período, mas não devemos permitir a ele que levante questões
globais que vão ter um impacto na posição da África do Sul.

30 de julho de 2009 – Timan Muller e Janis Vougiokas, “As duas faces do Dalai Lama: o tibetano bondoso e seu regime antidemocrático”, Stern Magazine (Alemanha):

O Dalai Lama afasta quaisquer dúvidas com seu sorriso. Em todos os lugares ele recebe a mesma veneração digna de um deus. No Ocidente ele aparece como ídolo da nova era, mas nos Himalaias ele governa como um senhor feudal. Um bondoso benfeitor que pode surpreendentemente demonstrar um comportamento típico de um intolerante ditador (…).
Ele vai enfrentar oposição já que as críticas aumentam no seio da sua comunidade no exílio. “Sua Santidade vive numa bolha sem contato com o mundo exterior”, diz Lhasang Tsering, um antigo ativista, que agora possui uma livraria na pequena Lhasa. “Religião e política deveriam ser finalmente separadas”.