O QUe O dALAi LAmA reALizOU?
O Décimo Quarto Dalai Lama movimenta-se com impunidade através de seus muitos papéis como político e líder religioso. Quando ele está fazendo algo errado como político, ele é perdoado como líder religioso, e quando ele faz algo errado como líder religioso, ele é perdoado por precisar atuar como político. Parece que ninguém pode detê-lo, nunca é culpado por nada e sempre se sai bem.
Com um papel para cada ocasião – homem santo, político, líder de estado internacional, humilde monge, ícone pop, papa budista, socialista, astro de cinema, autocrata, democrata, marxista, humanitarista, ambientalista, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, nacionalista, Buda da Compaixão, comunista, Rei-Deus –, o Dalai Lama costura uma complexa rede de religião e política que captura suas plateias onde quer que vá. Ninguém nunca viu nada parecido com isso. Convence a todos facilmente com a mística histórica do Tibete e seu Rei-Deus, e os cativa com seu encanto.
Usando as vestes de um monge e empregando as palavras profundas de Buda, o Dalai Lama tem a presunção de ensinar o mundo a realizar tudo aquilo que ele próprio fracassou em conseguir. Somente com palavras e com uma máquina de publicidade muito ampla e cara, o Dalai Lama se estabeleceu na posição de Rei-Deus nas mentes da maioria das pessoas do mundo. Porém, por detrás da retórica, da imagem pública e do carisma que deslumbrou o mundo, encontra-se uma pessoa que falhou repetidamente.
Sem dúvida, não fica claro que benefícios práticos os tibetanos no Tibete receberam das atividades do Dalai Lama no exterior. Inclusive, poder-se-ia dizer que seu sofrimento aumentou. A principal realização do Dalai Lama foi ter se transformado numa celebridade internacional, um status que ironicamente depende da continuidade do subjugamento do Tibete.351
Se olharmos por detrás do carisma, das brincadeiras e do encanto do Dalai Lama, por detrás da ilusão e da farsa calculada de um Tibete independente em que tem trabalhado todos esses anos e nos perguntarmos: “O que o Dalai Lama realmente fez pelo Tibete?”, a resposta seria “Nada”. Na verdade, é ainda pior do que nada, porque ele desistiu do Tibete, ele perdeu o Tibete por completo.
Se nos perguntarmos: “O que o Dalai Lama fez pela paz mundial, pelo meio ambiente, pelos direitos humanos e liberdade religiosa?”, assuntos dos quais ele constantemente fala, a resposta ainda seria “Nada”. Não temos como apontar um acre de terra em qualquer lugar do mundo que o Dalai Lama tenha salvado do deflorestamento, exploração dos recursos naturais, agricultura exaustiva ou contaminação. O Dalai Lama fala sobre paz mundial, direitos humanos e liberdade religiosa, mas, além de prêmios e condecorações que recebeu no nível pessoal, não podemos apontar para uma só realização em nenhuma dessas áreas que ele tenha alcançado através de seus próprios esforços. Na verdade, graças a sua violação e abuso dos direitos humanos e da liberdade religiosa, ele contribui diretamente para o conflito e desarmonia no mundo. Se analisarmos o que está por detrás dos ataques do Dalai Lama contra os assim chamados fundamentalistas e sectários, encontraremos o oposto, pois ele mesmo é quem, de fato, está destruindo a paz, harmonia e felicidade da sua própria sincera comunidade e de outros praticantes budistas em todo o mundo. Se analisarmos o chamamento do Dalai Lama por harmonia e unidade entre as quatro tradições budistas tibetanas, veremos um plano onde ele na verdade está destruindo as quatro tradições, assegurando, assim, para si a posição de poder e influência preponderantes, no caso de um retorno ao Tibete.
Depois de tantos anos no exílio, o Dalai Lama sofreu uma série de fracassos políticos nacionais e internacionais que provocaram uma profunda crise e divisão dentro da comunidade tibetana no exílio e agora ele ameaça a comunidade mundial budista. Ele não criou nada a não ser problemas para o povo tibetano que ele diz representar, incluindo uma viciosa discriminação contra inocentes praticantes religiosos. Na esfera internacional, vemos um líder político que foi superado e marginalizado, não unicamente pelo curso da história, mas também pelo resultado de seus próprios pontos de vista políticos, equívocos e erros.
O Dalai Lama não tem sido capaz de fazer nada para reverter a política integracionista de Beijing no Tibete, as perspectivas de retorno dos tibetanos exilados são tão remotas como sempre foram, as negociações com os chineses estão estancadas e não há a mínima inclinação dos governos para reconhecer o Tibete como um estado independente. O Dalai Lama tornou-se uma figura mundialmente famosa, mas não pôde obter nada de concreto para seu povo.
O respaldo a ideias marxistas e o louvor às atividades de Mao Zedong mostram claramente que ele não gosta da democracia nem deseja compartilhar seu poder com outras pessoas. Por outro lado, ele não gosta do atual governo chinês. Em seu próprio jornal Sheja ele sempre está criticando o governo chinês, chamando-o de ten-dra China, ou “China, inimiga da doutrina de Buda”.
A principal razão pela qual ele continuamente critica os chineses é que o Tibete atualmente é controlado pelos chineses e ele deseja tomar o controle e o poder de volta para si mesmo. Por esse motivo, ele desenhou um plano: para recuperar seu poder e sua posição, ele disse aos chineses que, embora aceitasse a perda da independência tibetana, desejava autonomia, o que daria somente a ele o completo controle do Tibete.
Ele se esforçou em conseguir isso durante muitos anos, mas quando fi almente entendeu que seu esquema não estava funcionando e que os chineses não satisfariam seus desejos, ele se tornou frustrado e começou a organizar manifestações internacionais cuja natureza violenta perturbou pessoas de muitos países. A partir disso podemos ver o comportamento hipócrita e a natureza egoísta do Dalai Lama: ele não está preocupado com o futuro do Tibete, mas sim com sua posição e poder. Ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz, aparentemente indicando que ele é um homem de paz, mas na realidade ele é um criador de problemas que destruiu a até agora inquestionável verdade, paz e harmonia nas comunidades tibetanas em todo o mundo.
Como resultado direto das políticas domésticas desastrosas e seu discurso agressivo, a comunidade tibetana foi profunda e violentamente dividida em um crescente número de questões críticas que incluem: (1) a decisão unilateral do Dalai Lama de abandonar a causa da independência tibetana, sem consultar o governo ou o povo tibetano; (2) o não cumprimento de seu declarado compromisso de democratizar o governo tibetano; (3) sua aprovação e inclusive instigação da censura nos meios de comunicação e repressão da liberdade de expressão; (4) sua impiedosa supressão da liberdade de religião através da proibição da prática de Dorje Shugden; e (5) sua aprovação e instigação de muitas violações e abusos aos direitos humanos, incluindo ameaças, coerção, intimidação, excomungação, violência física e até mesmo assassinato.
São muitas as causas dos fracassos do Dalai Lama para obter qualquer coisa substancial para o povo tibetano, incluindo seus próprios pontos de vista e atitudes político-ideológicas, sua incompetência como “chefe de estado”, o papel dúbio desempenhado pelo oráculo de Nechung e a participação da família do Dalai Lama na geração e execução da política governamental.
Contudo, o principal problema que subjaz à atual crise é a própria natureza e função do governo tibetano do Dalai Lama como um sitema teocrático feudal – com sua mistura endêmica entre religião e política, sua tradução de ideias religiosas em política governamental, sua profunda confusão com respeito aos papéis de líder religioso e chefe de estado e sua visão retrógrada da posição do Dalai Lama como o Rei-Deus do Tibete.
Depois de cinquenta anos, ainda não vemos nesse atual Dalai Lama um Rei-Deus, um salvador, nem mesmo um chefe de estado sábio, habilidosamente moldando o destino de seu país e de seu povo em tempos difíceis. O que vemos, em contraste, é um homem cínicamente egoísta e desesperado que precipitou a maior catástrofe da história do Tibete.
Com esses pontos em mente, devemos atentar para o seguinte comentário de John Goetz na conclusão de seu artigo Inimizado com o Dalai Lama:
A tragédia do Tibete não é somente a brutal ocupação chinesa, mas também o desespero que levou tantas pessoas a acreditarem que o retorno do Dalai Lama seria a única alternativa.352