Capítulo 2

Lama Reting–Como ele escolheu o falso Dalai Lama

As informações que seguem foram extraídas de várias fontes, incluindo o Oceano da Verdade Explicada e testemunhos pessoais.

Lama Reting foi o lama reencarnado do Monastério Reting no Tibete e também um dos mais importantes lamas do Monastério Sera Jey, perto de Lhasa. Depois da morte do Décimo Terceiro Dalai Lama, em 1933, Lama Reting tornou-se regente do Tibete. Alguns anos mais tarde, um parente do Décimo Terceiro Dalai Lama, um ministro de alto escalão chamado Langdun, contou a Lama Reting e a outros ministros que o filho de um de seus parentes era a reencarnação do Décimo Terceiro Dalai Lama, oferecendo-lhes evidências para provar isso.

O relacionamento entre Lama Reting e Langdun era tenso e difícil. Assim, Reting rejeitou a reinvidicação de Langdun de que o filho de seu parente fosse a reencarnação do Décimo Terceiro Dalai Lama. No entanto, a maioria dos ministros apoiou Langdun e isso tornou Reting ansioso com relação a sua posição. Se o filho do parente de Langdun fosse reconhecido como reencarnação do Décimo Terceiro Dalai Lama, ele, então, perderia seu próprio poder e posição.

Para solucionar esse problema e proteger sua posição, Reting urdiu um plano com seu amigo próximo, Ketsang Lama, outro lama do Monastério Sera Jey. Eles tomaram três decisões, a primeira delas era de que a reencarnação do Décimo Terceiro Dalai Lama seria escolhida num local distante, tal como a região de Amdo Kumbum, próxima à fronteira chinesa. Em segundo lugar, Reting deveria, segundo a tradição, ir ao lago sagrado da deidade Shridevi, pretender ter visões das letras A, KA e MA na água do lago e relatar isso por escrito. As letras A, KA e MA indicariam que a mãe (MA) da reencarnação do Décimo Terceiro Dalai Lama apareceria em Amdo (A) Kumbum (KA). Em terceiro lugar, depois de finalizar o segundo preparativo, Ketsang deveria ir a Amdo Kumbum e escolher um garoto adequado para ser a reencarnação do Décimo Terceiro Dalai Lama.

Quando Ketsang e seus dois assistentes chegaram a Amdo Kumbum, começaram a procurar por um garoto adequado. Um dia Ketsang encontrou um velho monge do monastério de Kumbum e explicou-lhe que procurava por uma criança adequada para ser reconhecida como reencarnação do Décimo Terceiro Dalai Lama. Ele perguntou ao monge se este tinha alguma recomendação. O monge respondeu que na aldeia vizinha de Takster havia um garoto que poderia ser adequado e ofereceu-se para levar Ketsang até ele. O velho monge era na verdade um parente da família do garoto; portanto, estava tentando guiar Ketsang em direção à sua própria família!

Takster era uma vila muçulmana. Dois dias depois, Ketsang visitou a família com o velho monge e foi apresentado ao garoto. Ketsang mostrou ao garoto muitos objetos diferentes que haviam pertencido ao Décimo Terceiro Dalai Lama, mas a criança não deixou transparecer nenhum interesse ao ver tais coisas. Mesmo depois de Ketsang entregar algo para ele dizendo “isso é teu”, o garoto imediatamente colocou o objeto de lado. No entanto, Ketsang achou que o garoto era bonito e pensou que isso seria suficiente. Como está detalhado em Oceano da Verdade Esclarecida, Ketsang mentiu sobre os resultados do exame do garoto.

Alguns dias mais tarde, Ketsang visitou a família novamente e disse aos pais do garoto: “Somos representantes do governo tibetano e, se vocês estiverem satisfeitos, gostaríamos de reconhecer seu filho como a reencarnação do Décimo Terceiro Dalai Lama”. Os parentes aceitaram alegremente. O garoto mais tarde passou a usar as roupas de um monge budista e o povo local jocosamente apelidou-o de “muçulmano com roupas cor de açafrão”. Dessa forma, ele recebeu a posição de Dalai Lama do Tibete e, por causa disso, o povo tibetano começou a reverenciá-lo e a manter sua fotografia em seus altares.

Tendo feito esses arranjos preparatórios, Reting então informou os ministros do governo tibetano e anunciou ao público que ele e Ketsang haviam encontrado a autêntica reencarnação do Décimo Terceiro Dalai Lama. Ao dizer isso, ele mentiu publicamente.

Os ministros do governo tibetano não estavam felizes em aceitar alguém de origem não budista como reencarnação do Décimo Terceiro Dalai Lama. No entanto, alguns monastérios apoiaram Reting e, em especial, o abade do monastério de Sera Jey sustentou vigorosamente que haveria uma guerra civil se os ministros não aceitassem a reencarnação escolhida por Reting. Além disso, o próprio Reting gozava de grande poder político e, por isso, os ministros não tinham escolha, a não ser acatar aquilo que ele dissesse. O garoto foi nomeado Lhamo Dondrub e, para receber permissão para que ele fosse desvinculado da comunidade muçulmana, Reting pediu ao governo tibetano que pagasse 400.000 moedas de prata para o líder muçulmano da área ao redor de Taktser, um homem chamado Ma Pu-fang. Finalmente, o garoto muçulmano Lhamo Dondrub foi levado a Lhasa, chegando juntamente com o grupo que o encontrou, sua família e um grande número de mercadores muçulmanos. Reting organizou uma grande cerimônia de boas-vindas para a chegada do garoto.

Mais tarde, chegada a época de Lhamo Dondrub receber os votos de ordenação, ele deveria recebê-los do Regente Reting em pessoa. No entanto, Reting não tinha segurança para conceder votos de ordenação, pois havia danificado seriamente sua própria disciplina moral. É comumente sabido que ele mantinha relações sexuais com a esposa de seu irmão e que ele se engajava em muitas outras ações inadequadas para um monge. Por essa razão, ele pediu a seu professor, o ancião Taktra Rinpoche, que ocupasse a posição de Regente por três anos e ensinasse o estilo de vida budista e desse votos de ordenação a Lhamo Dondrub durante esse período. Taktra aceitou esse pedido.

Depois que Taktra se tornou Regente, tentou cuidar do garoto e ensinar-lhe, mas logo descobriu que Lhamo Dondrub era muito diferente de outros garotos. Sempre que Taktra ensinava-lhe a praticar o estilo de vida budista, o garoto rejeitava os ensinamentos e não mostrava interesse algum por nenhuma prática espiritual. O garoto era mal-humorado e constantemente gritava com Taktra. Muito decepcionado, Taktra disse certo dia a um de seus discípulos próximos: “Esse garoto Lhamo Dondrub não possui nenhuma das boas marcas do estilo de vida budista. Estou preocupado com nosso país e com o que o futuro reserva para o povo tibetano”. Taktra, então, nomeou dois outros professores para o garoto – Ling Rinpoche e Trijang Rinpoche. Mais tarde, Taktra obteve informações suplementares que mostravam ainda mais claramente que Reting continuava mantendo relações sexuais com uma mulher e se engajava em muitas outras ações que eram inapropriadas para um monge, e ficou ainda mais decepcionado com ele.

Em geral, bem no começo, muitos ministros de governo, incluindo Langdun, perceberam que Reting havia mentido quando afirmou que tivera uma visão das três letras A, KA e MA no lago sagrado da deidade Shridevi. Naquela época um dos assistentes de Reting disse a um amigo que ele havia mentido e o amigo, por sua vez, transmitiu a informação aos ministros do governo. Quando o tempo de regência de Taktra chegava quase ao fim, o Kashag (Gabinete de Ministros) do governo tibetano recebeu muitos relatórios de diferentes pessoas sobre como Reting e Ketsang haviam escolhido uma reencarnação falsa do Décimo Terceiro Dalai Lama e, por essa e outras razões, o governo enviou soldados aomonastério de Reting para prendê-lo e levá-lo a Lhasa.

Um dia, enquanto estava na prisão, Reting foi levado por uma guarda à sala de reuniões de Kashag. O Ministro-chefe pediu a Reting que dissesse a verdade com relação à visão que tivera das letras A, KA e MA no lago sagrado. Temendo por sua vida, Reting admitiu que havia mentido e fez uma confi o completa. Logo depois ele morreu na prisão. Alguns dizem que ele foi executado sob as ordens do governo tibetano. Ciente da verdade, o governo tibetano, então, anunciou publicamente que qualquer pessoa que tivesse recebido uma posição especial de Reting, incluindo Lhamo Dondrub, seria removida do cargo. No entanto, esse era um período de grande transtorno no Tibete. Havia muito medo de que as tropas chinesas em breve invadissem o país e entrassem em Lhasa. Também muitos ficaram insatisfeitos ao saber que Lhamo Dondrub perderia seu status, sobretudo porque ele, através do cuidado especial e ensinamentos recebidos de Trijang Rinpoche e Ling Rinpoche, começava a melhorar suas qualifi ções. Por todas essas razões, certo número de lamas pediu enfaticamente ao governo, por meio de Taktra Rinpoche, para adiar o afastamento de Lhamo Dondrub da posição de Dalai Lama e esse pedido foi aceito. Pouco tempo depois, em 1950, o ancião Taktra Rinpoche foi forçado a renunciar. O exército chinês invadiu o Tibete no ano seguinte, entrando em Lhasa um ano depois. O governo tibetano gradualmente parou de funcionar e fi , em 1959, Lhamo Dondrub – ou Tenzin Gyatso como era, então, conhecido – escapou para a Índia.

Na Índia, o falso Dalai Lama criou o governo tibetano no exílio. Esse governo ocultou a verdade sobre os eventos acontecidos anteriormente no Tibete e, ao longo de cinquenta anos, espalhou por todo o mundo unicamente informações falsas que exageravam nas boas qualidades do falso Dalai Lama. Eles fizeram com que esse falso Dalai Lama ficasse mundialmente famoso. Porém, o que ganharam com isso? Eles recebem muito dinheiro todos os anos, mas para onde todo esse dinheiro vai? Sua estratégia de misturar religião com política não trouxe vantagem alguma para o Tibete, apenas prejudicou enormemente a reputação do budismo. Embora Lhamo Dondrub seja muçulmano, por toda sua vida ele preferiu se mostrar como um ser sagrado budista, dando ensinamentos budistas que ele roubou de seu Guru-raiz Trijang Rinpoche. Desse modo, ele enganou muitas pessoas ao redor do mundo.

Existem incontáveis exemplos de como esse falso Dalai Lama enganou seu povo com mentiras. Um deles é o do garoto espanhol chamado Osel Hita Torres que foi reconhecido como a reencarnação de um lama tibetano. Em maio de 2009 um artigo sobre Osel, “Criança escolhida pelo Dalai Lama como reencarnação de líder espiritual afasta-se de tradição budista”, foi publicado no jornal britânico Guardian. O artigo dizia:

Enquanto ainda aprendia a andar ele foi colocado num trono e venerado por monges que o tratavam como um deus. Mas o garoto escolhido pelo Dalai Lama como reencarnação de um líder espiritual causou tristeza – e certo vexame – aos budistas tibetanos, quando deu as costas à tradição que tinha tão elevadas esperanças com relação a ele.

(…) Ele está agora estudando cinema em Madrid e denunciou a tradição budista que o elevou à condição de guru. “Eles me tiraram da minha família e me prenderam num contexto medieval onde sofri bastante”, disse Torres, 24, ao descrever como ele foi levado da obscuridade em Granada para um monastério no sul da Índia. “Era como viver uma mentira”, ele revelou ao jornal espanho El Mundo.

Outro artigo intitulado “O despertar de Osel, uma criança contra seu destino”, da revista anglo-espanhola Babylon, diz:

Entretanto, ele não se lembrava de sua suposta vida anterior. “Minha memória mais antiga era quando estava com quatro anos em Dharamsala, andando sozinho num bosque, nada relacionado a vidas passadas.”

(…) “Eu voltei à Espanha porque cheguei a um ponto em que não mais encaixava naquele tipo de vida. Não me encontrava porque para mim era como uma mentira estar lá, vivendo algo que foi imposto de fora.” Para alguém que viveu dezoito anos numa bolha, voltar à realidade foi um choque brutal.

Osel finalmente conseguiu libertar-se dessa falsa vida criada pelo Dalai Lama e alguns de seus seguidores mais próximos. Este é um dentre muitos exemplos de como o Dalai Lama engana e manipula as pessoas em diferentes níveis.

Todas as oportunidades de Lhamo Dondrub vieram da suprema bondade de seus dois professores – Ling Rinpoche e Trijang Rinpoche –, mesmo assim como ele retribuiu tal bondade? No livro Oceano da Verdade Explicada, está dito:

Mais tarde, em Dharamsala, Índia, Ling Rinpoche morreu com profunda decepção, porque o Dalai Lama recusou seu pedido para parar de incentivar gelugpas a praticarem a Tradição Nyingma. E Trijang Rinpoche morreu com profunda decepção, porque o Dalai Lama recusou seu pedido para que parasse com a proibição à prática de Dorje Shugden.

É amplamente sabido que nesta era o grande lama Je Phabongkhapa e seus discípulos de coração, Ling Rinpoche e Trijang Rinpoche, são detentores da linhagem da Tradição Gelug – uma tradição espiritual que foi fundada pelo Buda da Sabedoria, Je Tsongkhapa, e que floresceu extensivamente por todo o mundo. O “muçulmano com roupas cor de açafrão”, esse falso Dalai Lama, atua diretamente contra as visões, intenções e feitos desses três preciosos lamas. O desejo principal desse falso Dalai Lama é destruir a pura linhagem da Tradição Gelug.

Para evitarem perder sua própria posição nos monastérios, o atual e os ex-abades dos principais monastérios da Tradição Gelug aplicam esforço para satisfazer os desejos desse falso Dalai Lama. Eles causaram diretamente grande cisão na sanga (a comunidade budista ordenada), expulsaram milhares de monges de seus monastérios e destruíram a confiança, a harmonia e a paz interna de cada monastério Gelug. Dessa forma, eles causaram sofrimento a milhares de monges e a suas famílias.

É escandaloso que eles apoiem esse falso Dalai Lama em suas atividades de destruição da pura linhagem da Tradição Gelug. Quão vergonhosos são esses abades atuais e do passado: eles são verdadeiros criminosos escondidos atrás de máscaras espirituais.

O principal desses criminosos é Samdhong Tulku, o Primeiro Ministro do governo tibetano no exílio e o antigo porta-voz da Assembleia Nacional Tibetana. Anteriormente ele era um discípulo próximo de Trijang Rinpoche, mas agora ele se tornou um criminoso que atua diretamente contra a visão, a intenção e os feitos de Trijang Rinpoche. Em nome desse falso Dalai Lama, Samdhong incentiva ativamente os tibetanos a agirem contra praticantes Shugden. Depois do falso Dalai Lama, Samdhong é a principal fonte desse problema internacional.