Início dos anos 1950
O Dalai Lama compõe Melodia do Incessante Vajra: Propiciação do todo poderoso Gyalchen Dorje Shugden, Protetor dos ensinamentos do Conquistador Manjushri, Tsongkhapa.
1978
Pela primeira vez, o Dalai Lama fala publicamente contra a prática de Dorje Shugden.
Anos 1980
18 de julho de 1980
Durante discurso no Monastério Sera (próximo a Bylakuppe, Estado de Karnataka, sul da Índia), o Dalai Lama diz: “para resumir meu ponto de vista, não estou dizendo que Gyalchen [Dorje Shugden] não seja uma deidade autêntica, mas sim que em um evento não é auspicioso para aqueles que confiam em Palden Lhamo ou Gyalpo Kunga [Nechung], sejam eles grandes mestres ou monastérios, não fica bem venerar Gyalchen”.
O Dalai Lama ordena que um pequeno templo Shugden, próximo ao salão principal do Monastério Sera, seja fechado. Lamas e monges seniores dos monastérios Sera-Jey e Sera-Mey costumavam frequentá-lo. Por ordem do governo tibetano no exílio, um novo pequeno templo do espírito Nechung é erigido no pátio do monastério e, de forma similar, em todos os assentamentos tibetanos.
1983
O Dalai Lama ordena a remoção da estátua de Dorje Shugden do principal salão de oração do Monastério Ganden (em Mundgod, Estado de Karnataka, sul da Índia), que é o mais importante monastério da Tradição Gelug do budismo tibetano. Quando dizem ao Dalai Lama que a estátua é muito grande para passar pela porta, ele responde que então a estátua deve ser quebrada em vários pedaços.
1986
O renomado lama mongol Guru Deva Rinpoche, que vivia até então em Clementown, próximo a Dehra Dun, é forçado a deixar a Índia por ter publicado na mídia uma carta questionando as ações do Dalai Lama com relação a Dorje Shugden.
Guru Deva doa sua casa no Monastério Drepung Gomang para o próprio monastério. O abade do monastério consegue persuadir a multidão tibetana a não destruir a casa. Sob crescente pressão de tibetanos no Nepal, Guru Deva é forçado a retornar à Mongólia, onde ele permaneceu isolado da comunidade tibetana até sua morte em 2009, aos 101 anos de idade.
No passado, ele havia feito oferendas e doações muito generosas ao Dalai Lama, a seu dois tutores e aos grandes monastérios de Sera, Drepung e Ganden numa época em que a comunidade tibetana no exílio enfrentava uma grande escassez de tudo.
1996
Março 1996
O único jornal independente de Dharamsala, conhecido como Democracia, é forçado a parar de circular (Dharamsala é a cidade do norte da Índia onde o Dalai Lama vive e onde o governo tibetano está sediado).
10 de março de 1996
Durante os ensinamentos anuais no templo Thekchen Choeling em Dharamsala, o Dalai Lama impôs, pela primeira vez, uma proibição expressa à prática de Dorje Shugden:
A PrOibiçãO dA PráTiCA de dOrje shUgden
Seja fora ou dentro do Tibete, essa deidade está em discórdia com [as deidades do governo]… isso é muito sério no contexto da causa comum do Tibete. Entretanto, a não ser que eu os lembre novamente, haverá alguns que fingirão nada ter ouvido. Seria bom que vocês concordassem [com o que estou dizendo] sem que tenhamos que recorrer a essa última etapa. Será o recurso final caso [nós] tenhamos que bater em algumas portas. Seria bom que eles pudessem concordar sem que tenhamos que recorrer a esse último passo. Quer seja um monastério, ou a resistência oferecida por eminentes mestres espirituais, ou pessoas em particular, isso se tornará uma questão totalmente diferente, caso não tenham interesse pela libertação tibetana [em seus corações]. Se vocês considerarem a causa tibetana, se concordarem com a liderança do Dalai Lama, se apoiarem meu papel no governo [do exílio], seu posicionamento não será contrário [a esse ponto].
21 de março de 1996
Durante seu pronunciamento na sessão preparatória das iniciações de Tamdrin Yangsang e Sangdrub, o Dalai Lama, disse:
Basicamente, a autobiografia do 5.º Dalai Lama é explícita no que diz respeito ao conflito entre o Dalai Lama e Tulku Dragpa Gyaltsen. A “Visão Secreta” também elucida bem esse ponto.
Baseado nisso, o 13.º Dalai Lama emitiu uma proibição. Muitas coisas que permaneceram anônimas durante sua vida, no que diz respeito a seus ministros de governo e também ao público em geral, começaram a ser espalhadas depois de sua morte. Gyalchen [Dorje Shugden] é uma delas. Eu devo ser colocado no grupo do 5.º Dalai Lama. Sinto uma conexão cármica definitiva com meu predecessor. É minha missão completar aquilo praticado durante [a época do] 5.º Dalai Lama e meu predecessor. Essa é minha responsabilidade.
O Dalai Lama então pede a qualquer praticante de Dorje Shugden presente que deixe o templo, impedindo-os de receber a iniciação:
Estamos prestes a participar da iniciação de Tamdrin [uma deidade budista tibetana]. São requisitados recipientes que não venerem Gyalchen… o que acontece é que Dolgyal [Dorje Shugden] se relaciona com espíritos chineses, na verdade nós mencionamos seu nome durante nosso exorcismo, que naquela época foi baseado em Tamdrin. Embora não possamos confiar nesses exorcismos, tive sonhos estranhos [desde então]. [Portanto] não sinto que será cômodo para participantes [de Shugden] permanecerem aqui. Sendo assim, por tudo que foi dito, é inadmissível ter adoradores de Dolgyal nesta audiência. Caso a acrimônia entre as deidades resulte em desarmonia entre humanos, será a ruína espiritual… Isso também afetará a duração de vida do mestre espiritual.
Assim, ontem decretamos que não estaria correto que praticantes de Gyalchen estivessem em nossa audiência… Caso haja muitas pessoas, que para mim são desconhecidos, que tendo se infiltrado nesta audiência, não obstante, venerem Shugden, seria melhor para vocês que não permanecessem conosco. Caso recusem, não somente isso não beneficiará vocês mesmos, como poderá mesmo se tornar a causa da diminuição do tempo de vida do Dalai Lama. Caso desejem uma morte rápida do Dalai Lama, então, não faço objeções. Se houver pessoas que desejem continuar a venerar Gyalchen, é melhor que se levantem e saiam. Caso não haja tais pessoas, está tudo bem.
(…) se vocês, monges e mestres espirituais isolados, continuarem a dar desculpas e continuarem louvando assim, chegará o dia em que se arrependerão. De modo similar, nos colégios monásticos a maioria está além de qualquer crítica, mas também vejo que existem aqueles que permanecem firmes. Caso vocês sejam capazes de pensar por si mesmos, isso é bom, como mencionado, (…) não será nada bom caso tenhamos que bater a suas portas.
Essa é minha responsabilidade, mesmo que alguns não gostem disso… Eu vou continuar até o final do trabalho que comecei. Não recuarei por causa de uns poucos insatisfeitos.
Estou determinado a implementar as conclusões a que cheguei através de meu exame cuidadoso e não vou abrir mão disso.
30 de março de 1996
O Gabinete Privado do Dalai Lama emite um decreto pedindo que todos parem de praticar Dorje Shugden, com instruções para que os departamentos do governo, monastérios, associações etc. façam as pessoas ficarem conscientes disso.
A assembleia de deputados do povo tibetano (ou Assembleia Nacional Tibetana, o parlamento tibetano no exílio) aprova uma resolução, proibindo os funcionários do governo tibetano de fazerem a prática de Dorje Shugden.
Cartas do Escritório Pessoal do Dalai Lama são enviadas para os abades de diversos monastérios no sul da Índia:
(…) oráculos do governo [como Nechung] assinalam que há perigo com relação à saúde da Sua Santidade, o Dalai Lama, bem como com relação à causa do Tibete, devido à veneração de Shugden. Proibi-la é também a resolução de Sua Santidade como resultado de anos de observação. Há também desavenças entre Shugden e as duas principais deidades do governo, bem como com Dharmaraja. Além disso, isso é causa de instabilidade dentro da Tradição Gelug.
Embora conscientes de repetidos discursos feitos pela Sua Santidade, ainda há continuidade [do culto a Shugden] por monastérios tibetanos e por lamas reencarnados e geshes na Índia e no Nepal. Em alguns casos, longe de estarem atentos às palavras, alguns chegaram mesmo a insistir com Sua Santidade para que ele desista de trazer à tona tal assunto, já que, segundo eles, isso está causando mais desarmonia do que benefício para as comunidades tibetanas.
(…) em seu discurso de abertura no Congresso da Associação Cholsum [Três Províncias do Tibete], ele [o Dalai Lama] citou sua recorrente dor de garganta, mencionando que ela pode ser uma indicação de que ele deveria parar de trazer à tona esse assunto. Isso quer dizer que ele não deseja falar disso mais, já que parece que ninguém está dando a mínima atenção.
No dia 4 de março, na audiência final para os membros do Congresso, o Dalai Lama observou: “É muito bom que, preocupados com minha saúde, vocês tenham aprovado uma resolução que diz respeito a esse assunto. Ameaça para a saúde não quer dizer somente ataque armado. Esse tipo de ataque é muito raro na sociedade tibetana. Caso a indiferença com relação a minhas ordens prossiga, então já não haveria qualquer razão para que eu continue a viver silenciosamente como um homem desapontado. Esse tipo de interpretação seria mais pertinente”.
Portanto, sob os auspícios de todos os antigos abades, disciplinários, lamas encarnados e geshes, um anúncio deve ser feito com relação a esses discursos proferidos por Sua Santidade sobre o culto de deidades, de forma que ninguém possa mais ter como desculpa não tê-los ouvido. Ademais, assegurem a total implementação desse decreto por todos e cada um.
Com a ajuda adicional prestada pelos senhorios, certifiquem-se também da veiculação pública desse decreto entre todos os monges comuns [nos monastérios].
Ao implementar tais medidas, caso alguém prossiga praticando Dolgyal, façam uma lista com seus nomes, nome da casa, lugar de nascimento; turma, quando se tratar de alunos; e data de chegada, no caso de novas chegadas do Tibete. Mantenham o original e mandem-nos uma cópia das listas. Por favor, dividam essa responsabilidade e enviem um relatório claro sobre a implementação desta circular.
5 de abril de 1996
O Dalai Lama dirige-se ao Congresso da Juventude Tibetana e à Associação das Mulheres Tibetanas para incentivá-los a apoiar a proibição e a impor ativamente. Durante essa conferência, o Dalai Lama teria dito que é possível que haja uma ou duas pessoas prontas para dar a vida em seu nome, enfatizando, dessa forma, a determinação com a qual ele pretende efetivar a proibição. Embora essa observação tenha sido depois removida do relatório oficial do discurso, acredita-se que toda a conferência tenha sido filmada por uma equipe japonesa de filmagem que estava presente.
Às 8 da noite no Convento de Ganden Choeling em Dharamsala, um grupo de monjas entra no quarto de um abade e puxa uma estátua de Dorje Shugden para a rua com uma corda amarrada ao seu pescoço. Os principais malfeitores – Losang Dechen, disciplinário do convento, Tenzin Tselha e Dolma Yangzom – cospem e se sentam na estátua antes de quebrá-la e jogar seus pedaços no local de despejo de lixo da cidade. Essa estátua fora consagrada por Kyabje Trijang Rinpoche (o tutor júnior do Dalai Lama), Kyabje Ling Rinpoche (o tutor sênior do Dalai Lama), Kyabje Zong Rinpoche e Kyabje Rato Rinpoche.
9 de abril de 1996
O Movimento pela Liberdade Tibetana bane a prática de Dorje Shugden dentre seus membros.
14 de abril de 1996
A organização do movimento Guchusum emite uma resolução proibindo a prática de Dorje Shugden dentre seus membros.
Todos os funcionários do governo são obrigados a assinar uma declaração para efeito de que eles não pratiquem nem nunca praticarão Dorje Shugden.
18 de abril de 1996
O Departamento de Saúde publica uma nota para seus médicos e membros da equipe:
Devemos decidir não mais cultuar Dorje Shugden no futuro. Caso haja alguém que o cultue, ele deve se arrepender do passado e parar com o culto. Eles devem apresentar uma declaração por escrito de que não mais farão o culto no futuro.
19 de abril de 1996
A Associação Toepa (um grupo regional) emite uma resolução declarando que Dorje Shugden é um “fantasma chinês” e proíbe sua prática. Funcionários da Cidade Tibetana das Crianças (em Dharamsala, Himachal Pradesh, norte da Índia) são pressionados a fazer juramentos de lealdade.
Um decreto é enviado pelo Gabinete Privado do Dalai Lama para todos os principais monastérios tibetanos tornando obrigatória aos administradores e abades a implementação da proibição.
Representantes do Escritório Pessoal do Dalai Lama começam a chegar aos monastérios e assentamentos tibetanos para fazer pressão e para supervisionar a campanha de assinaturas contra a prática de Dorje Shugden.
22 de abril de 1996
O decreto proibindo o culto a Dorje Shugden é lido oficialmente no Monastério de Drepung (próximo de Mundgod, sul da Índia), e o abade confirma que todos devem seguir a proibição. O Monastério Drepung Loseling distribui um formulário pronto, dizendo que qualquer um que não o assine será expulso do monastério imediatamente. Muitos monges, inclusive Dragpa Rinpoche, preferem mudar-se para uma cidade indiana próxima em vez de apor sua assinatura.
Naquela noite, em benefício de alguns tibetanos amedrontados que se encontravam no assentamento tibetano de Golathala, perto de Bylakuppe, uma grande estátua de Dorje Shugden, juntamente com imagens e fotos menores de Kyabje Trijang Rinpoche são transportadas por medida de segurança durante a noite ao templo de Dorje Shugden, no Monastério Ganden Shartse.
Em Bylakuppe, um grupo de busca, procurando por outras imagens de Shugden, é informado pelo assistente do jovem Lama Dakyab Rinpoche que ele jogou uma estátua dentro do lago próximo ao assentamento tibetano n.º 2. Foi relatado que muitas outras estátuas de Shugden foram jogadas dentro do lago naquele período.
23 de abril de 1996
No salão de reunião principal do Monastério Drepung Gomang, o abade anuncia uma proibição estrita ao culto a Shugden. Naquela noite, as janelas da casa de Kyabje Dagom Rinpoche, um proeminete devoto de Shugden, são estilhaçadas e uma atmosfera de intimidação toma conta do monastério. Os discípulos de Kyabje Dagom Rinpoche fazem uma reclamação ao abade, mas são ignorados.
O abade ordena que a declaração de abandonar o culto de Shugden seja assinada. Posteriormente, dois monges procedentes de Ngari Khangtsen (parte do Monastério Drepung Gomang) chegam chorando ao templo de Dorje Shugden ao Monastério Ganden Shartse, explicando que, embora não desejassem desistir de sua crença religiosa, não havia outra opção a não ser assinar essa declaração ou defrontar-se com a expulsão imediata de seus monastérios. Um deles abandona seu monastério no dia seguinte.
25 de abril de 1996
Sob as ordens de seu abade, Achog Tulku, que se encontrava em Dharamsala, o monastério de Ganden Shartse convoca uma reunião para discutir a situação do seu altar de Dorje Shugden. O encontro decide não restringir a liberdade religiosa da prática de Shugden.
26 de abril de 1996
Um grupo de puja de Hayagriva, do Monastério Sera-Jey, recebe um pedido especial do Gabinete Privado do Dalai Lama, para que execute exorcismo contra Dorje Shugden e seus praticantes, por meio da deidade Hayagriva Tamdim, durante vinte e um dias. Bari Rinpoche é convidado a presidir o exorcismo e, em troca, o Gabinete Privado oferece agraciá-lo com a posição de Geshe Lharampa (o grau mais elevado de Geshe) no ano seguinte, com isenção dos exames de geshe normalmente exigidos.
Final de abril de 1996
Zungchu Rinpoche recolhe assinaturas da proibição de crianças do colégio de Ganden Shartse. Quando um monge de 11 anos pergunta para que seria usado o formulário assinado, Zungchu responde que era um documento para encontrar patrocinadores ocidentais para os alunos.
27-30 de abril de 1996
Esse é um período de grande tensão nos monastérios do sul da Índia. Há briga entre monges dos monastérios Ganden e Drepung. Em Ganden Jangtse, um monge é surrado por partidários da
proibição e precisa ser levado ao hospital; além disso, janelas das casas de proeminentes praticantes de Shugden são estilhaçadas.
1. de maio de 1996
Sob proteção policial armada, funcionários do governo tibetano no exílio proclamam o decreto da proibição no Monastério Ganden.
9 de maio de 1996
Representantes de monastérios tibetanos espalhados pela Índia que tradicionalmente praticam Dorje Shugden encontram-se em Déli e decidem não desistir de sua fé. Eles apresentam seu primeiro pedido ao secretário pessoal do Dalai Lama.
10 de maio de 1996
Na esperança de um possível diálogo, praticantes Shugden enviam uma petição ao Dalai Lama, seguida de solicitações adicionais nos dias 20 de maio, 30 de maio e 5 de junho. Todas as petições são rejeitadas.
Desde então, muitas outras solicitações e cartas foram enviadas ao Dalai Lama. Além disso, vários pedidos para audiências foram feitos em diferentes ocasiões. Todos eles foram indeferidos.
10-11 de maio de 1996
O Congresso da Juventude Tibetano reúne-se e decide implementar a proibição em cada assentamento tibetano. Buscas de casa em casa começam a acontecer e estátuas, pinturas e outros objetos sagrados são queimados ou profanados.
14 de maio de 1996
O Kashag (Gabinete de Ministros do governo tibetano no exílio) emite um depoimento negando que haja qualquer tipo de supressão religiosa.
15 de maio de 1996
Kundeling Rinpoche, diretor do Fundo de Caridade Atisha em
Bangalore, Índia, organiza protestos pacíficos contra a proibição.
O governo tibetano no exílio em Dharamsala faz uma alegação infundada de que Kundeling Rinpoche é um espião chinês e um mandado de prisão é emitido. Ele é obrigado a deixar o país temporariamente devido às ameaças de morte que recebe.
23 de maio de 1996
A Sociedade Religiosa e de Caridade dos Devotos de Dorje Shugden (agora comumente chamada de “Sociedade Dorje Shugden”) é formalmente registrada em Déli. Vários documentos, inclusive decretos tibetanos referentes à proibição da prática de Dorje Shugden, são enviados por correio para cerca de 75 grupos de direitos humanos ao redor do mundo, bem como para grupos culturais e de apoio ao Tibete.
24 de maio de 1996
A Sociedade Dorje Shugden recebe uma carta, datada de 22 de maio, de Kalon Sonam Topgyal, Presidente do Kashag, anunciando que, a partir daquele momento, haveria uma total proibição da prática de Shugden. A proibição enfatiza que:
(…) conceitos como democracia e liberdade religiosas são vazios quando se trata do bem-estar de S.S. o Dalai Lama e da causa do Tibete
28 de maio de 1996
O secretariado do Kashag restringe o direito de que Geshe Chime Tsering – o secretário geral da Sociedade Dorje Shugden – viaje para o estrangeiro para guiar um tour cultural para angariar fundos para seu monastério, Ganden Shartse.
5 de junho de 1996
Durante a 12.ª sessão da Assembleia Nacional Tibetana, realizada em Dharamsala entre 31 de maio e 6 de junho, o Presidente do Kashag, Kalon Sonam Topgyal, dirige-se à assembleia da seguinte maneira:
Agora, no que diz respeito à propriciação de Protetores do
Dharma, penso que primeiro devemos dar explicações sobre se isso [proibição] infringe direitos humanos ou não. Portanto, fica claro que ninguém está ditando “faça ou não faça” para todas as nossas tradições religiosas, incluindo as quatro tradições budistas e bön. Qualquer um na nossa sociedade tibetana pode se engajar nas práticas religiosas do islã, cristianismo, budismo ou bön. Entretanto, uma vez tendo ingressado numa fé religiosa específica, [essa pessoa precisa] conformar-se com as práticas tradicionais pertencentes àquele credo religioso; não é adequado, entretanto, para monges budistas entrarem e praticarem [budismo] em mesquitas em nome da liberdade religiosa. Sendo esse o caso, isso [proibição] é imposto sem que se infrinja a liberdade religiosa. Em particular, já que somos uma nação com um sistema dual, temos que agir de acordo com nossa estrutura religiosa-política [da nossa nação]. Não é adequado permitirem-se caprichos em nome de liberdade religiosa.
Resumindo, às grandes instituições monásticas e àquelas sob a administração [do Tibete no exílio] não lhes é permitido confiar [em Dorje Shugden].
6 de junho de 1996
Uma resolução com oito pontos é aprovada pela Assembleia Nacional Tibetana, impondo a proibição da prática de Dorje Shugden.
19 de junho de 1996
A Associação das Mulheres Tibetanas manda uma carta para o Ganden Tripa, o chefe da Tradição Gelug:
Apreciamos cordialmente e louvamos que muitos monges e monastérios tenham obedecido ao discurso contra Shugden de
S.S. o Dalai Lama. Fazemos o que está ao nosso alcance contra Geshe Kelsang, alguns geshes e ocidentais. Eles realmente protestaram. Você precisa contestar os livros e cartas escritos por eles. Essa é a melhor maneira de solucionar a questão do Tibete.
Junho de 1996
Um ministro aposentando tibetano, Sr. Kundeling, é esfaqueado e gravemente ferido em sua casa. Num encontro em Dharamsala, alguns dias antes disso, ele havia mencionado sua preocupação com o andamento dessa nova política do governo no exílio.
Julho de 1996
O esboço constitucional para um Tibete livre recebe uma emenda que diz que nenhum juiz ou magistrado pode ser adepto de Dorje Shugden.
Durante a preparação para a iniciação de Kalachakra em Lahul Spiti, o oráculo feminino do Dalai Lama, Tsering Chenga, alega que mais ou menos trinta membros da Sociedade Dorje Shugden vão atacar o Dalai Lama durante a iniciação. São tomadas medidas de segurança avançadas e buscas são feitas, mas fica claro que não passava de uma enganosa profecia e de um alarme falso. Ninguém da Sociedade Dorje Shugden estava presente.
7 de julho de 1996
Geshe Losang Chotar do monastério de Sera-Jey queima uma thangkha do aspecto irado de Dorje Shugden [pintura religiosa], proveniente do monastério de Tawang, em Arunachal Pradesh.
8 de julho de 1996
Um anúncio público é feito em Dharamsala:
Dia 8 de julho haverá um ritual preparatório para a iniciação de Avalokiteshvara [Buda da Compaixão] e no dia 9 de julho acontecerá a iniciação propriamente dita. Entretanto, àqueles que cultuam Dolgyal [Shugden] não lhes é permitido participar dessa Iniciação. Por ordens do gabinete da S.S. o Dalai Lama.
11 de julho de 1996
Na comunidade tibetana de Shillong, Meghalaya, dez tibetanos (oito homens e duas mulheres) são expulsos do Congresso Tibetano
de Jovens e da Associação das Mulheres Tibetanas depois de recusarem abandonar sua fé religiosa em Dorje Shugden.
13 de julho de 1996
Samdhong Tulku, porta-voz da Assembleia Nacional Tibetana, dirige-se aos dignatários locais tibetanos em Nova Déli. Ele os aconselha a não usar pressão ou violência verbal ao tentar persuadir os tibetanos na área de Nova Déli a desistir da prática de Dorje Shugden, mas pedir-lhes que façam a escolha entre Dorje Shugden e o Dalai Lama.
13 e 14 de julho de 1996
Em Mundgod, sul da Índia, mais de 700 monges, todos devotos de Dorje Shugden, fazem um protesto pacífico contra a supressão de Dorje Shugden. Onze monges da Casa Serkong do monastério de Ganden Jangtse participam da marcha. Como resultado, eles são expulsos de seu colégio.
No dia 6 de agosto, em nome do assentamento tibetano em Mundgod, o governo tibetano envia uma carta ao monastério de Ganden Jangtse, por meio da qual expressa seu apreço pela expulsão dos onze monges.
14 de julho de 1996
Num encontro fechado em Caux, Suíça, o Dalai Lama dirige-se aos membros legisladores da comunidade tibetana no exílio na Suíça. Em um trecho de seu discurso, lê-se:
Todos aqueles afiliados com a sociedade tibetana do governo de Ganden Phodrang devem cortar laços com Dolgyal. Isso é uma necessidade já que traz perigo para a situação religiosa e temporal do Tibete. No que diz respeito aos estrangeiros, não faz a mínima diferença se eles andam com seus pés para o alto e suas mãos para baixo. Fomos nós quem lhes ensinamos o Dharma, e não eles a nós. (…)
Até agora vocês têm feito um bom trabalho, no que diz respeito a essa questão. De agora em diante também prossigam
com essa política de forma inteligente. Devemos fazer isso de forma que nas futuras gerações nem mesmo o nome Dolgyal seja relembrado.
16 de julho de 1996
O Dalai Lama fala no programa de rádio, The World Tonight, da BBC:
Eu mesmo, quando era mais jovem, pratiquei isso. Também fui um seguidor da deidade [Dorje Shugden]. Mais tarde, uns 20 anos atrás, descobri através de minha própria investigação, que não era apropriado. Então, desse modo, eu também comecei a fazer algumas restrições. Daí, no começo deste ano, repeti isso novamente. Agora nosso parlamento no exílio e muitos dos grandes monastérios fazem alguns esforços. É por essa razão que algumas pessoas aqui e ali se queixam.
17 de julho de 1996
Uma resolução é aprovada pela Assembleia Nacional Tibetana (proposta por Yongten Phuntsog e apoiada por Tsering Phuntsog):
8: Resumindo, departamentos de governo, organizações, associações, monastérios e suas filiais sob direção do governo tibetano no exílio devem obedecer à proibição contra o culto de Dolgyal (…) entretanto, se uma pessoa é adoradora de Dolgyal, deveria ser incitada a não comparecer a nenhum ensinamento, tais como iniciações tântricas, concedidos pela
S.S. o Dalai Lama.
Meados de julho de 1996
Uma viúva de 70 anos de idade, Sra. Chogpa, do assentamento tibetano de Rajpur, próximo à Dehra Dun, em Uttar Pradesh, é atormentada muito além do tolerável por tibetanos locais, inclusive por seus vizinhos mais próximos. Desamparada diante do abuso de tantas pessoas, ela é forçada a vender sua casa, cozinha e pequena horta por uma pequena fração do que valem e a ir abrigar-se no assentamento tibetano n.º 1 em Mundgod, estado de Kamataka.
25 de julho de 1996
Uma carta é enviada a vários monastérios, recrutando monges para a Escola Budista de Dharamsala. Uma das quatro qualifi exigidas é: “4: O Candidato não deve ser um adorador de Dolgyal.”
29 de julho de 1996
900 monges do Monastério Sera-Mey conduzem uma manifestação pacífica contra a proibição de Dorje Shugden. Samdhong Tulku, porta-voz da Assembleia Nacional, profere um discurso para monges reunidos no salão de reuniões de Sera Lachi e diz durante seu pronunciamento: “(…) Dorje Shugden e Nechung [protetor do governo] são ambos bodhisattvas que alcançaram solos elevados”. Esse é um exemplo de declarações contraditórias feitas por membros do governo do Dalai Lama nesse período.
Agosto de 1996
Uma organização autointitulada “Sociedade Secreta dos Exterminadores dos Inimigos Externos e Internos do Tibete” torna públicas suas ameaças de morte contra as duas jovens reencarnações de elevados lamas que confiam em Dorje Shugden: Kyabje Trijang Rinpoche (com 13 anos) e Kyabje Zong Rinpoche (com 11). Em um trecho, lê-se:
Qualquer um que vá contra a política do governo precisa ser identificado, combatido e deve receber a pena de morte (…). No que diz respeito às reencarnações de Trijang e Zong Rinpoche, caso eles não parem de praticar Dolgyal e continuem a contradizer as palavras de S. S. o Dalai Lama, não somente não poderemos respeitá-los, mas também suas vidas e atividades sofrerão destruição. Essa é nossa primeira advertência.
8 de agosto de 1996
Alunos da escola primária tibetana aprendem pela primeira vez uma
nova canção, chamada Causa Tibetana:
Todos vocês tibetanos, ouçam ao conselho do Dalai Lama e
confiem em protetores puros. Essa é a causa tibetana.
4 e 6 de outubro de 1996
O quadro de professores Gelug na Europa (19 membros) encontra-se e decide pedir uma audiência com o Dalai Lama para discutir esse assunto. A audiência é negada por meio de uma carta do Gabinete do Dalai Lama que diz: “Vocês não têm mais nada a dizer, a não ser tomar conta dos 18 volumes da obra de Je Tsongkhapa”. Desde então os membros do quadro sentem-se demasiado intimidados para se encontrarem novamente.
A Sociedade Dorje Shugden encontra-se com abades dos monastérios de Sera, Drepung e Ganden em Nova Déli. Os abades solicitaram uma audiência com o Dalai Lama para discutir esse assunto. A audiência é negada, como todos os outros pedidos anteriores da Sociedade Dorje Shugden.
7 e 8 de novembro de 1996
A casa do professor aposentado Sr. Losang Thubten é atacada e queimada com sua fi e outro parente trancados de propósito do lado de dentro. Felizmente, todos sobreviveram. Numa fita de áudio publicada anteriormente pela sociedade Dorje Shugden, o Sr. Thubten havia dado um certo número de fatos históricos que relatavam descarada injustiça em ações do governo tibetano no exílio.
11 de novembro de 1996
Um aviso é feito em Dharamsala proibindo praticantes de Dorje Shugden de participar da iniciação de Guhyasamaja a ser concedida pelo Dalai Lama.
19 a 21 de novembro de 1996
O Dalai Lama visita monastérios em Mundgod, sul da Índia, fazendo-o sem o pedido tradicional, o que é sem precedente na história dos Dalai Lamas.
Na esperança de um discurso mais conciliatório do Dalai Lama, praticantes de Dorje Shugden cancelam uma marcha pacífica já planejada. Esse cancelamento é publicado no jornal local e, além disso, os organizadores ligam pessoalmente para o comissário adjunto e o superintendente da polícia de Karwar para assegurar às autoridades do seu gesto de boa vontade. A Sociedade Dorje Shugden em Déli envia uma delegação para pedir uma audiência com o Dalai Lama na esperança de uma reconciliação durante essa visita. No entanto, o secretário do gabinete do Dalai Lama, Sr. Lobsang Jinpa, diz aos delegados que não há razão para eles se encontrarem com o Dalai Lama se não querem desistir de sua prática de Dorje Shugden.
Um exame de debate monástico acontece no dia 20 de novembro. Membros de ambos os monastérios de Ganden Shartse e Jangtse (aproximadamente 2000 monges) participam. O programa começa às 2 da tarde e dura até 7:30 da noite e por volta das 6 da tarde o Dalai Lama faz um discurso. Trechos de seu discurso incluem o que segue:
Quando eu estava visitando o monastério de Sera [em Bylakuppe, 15 a 18 de novembro], um representante dos monastérios de Shartse e Jangtse me chamou, convidando-me formalmente a visitar esses dois monastérios. Eu, brincando, perguntei-lhes sobre os recentes protestos contra meus funcionários.
Agora eu visitarei Shartse. Entretanto, se no futuro esse monastério continuar praticando Dorje Shugden e fabricando imagens dessa deidade, será necessário declinar convites para visitar Shartse. Nesse caso, eles não devem me convidar, e mesmo que seja convidado não virei.
Da mesma forma, no Tibete no futuro, se algum monastério praticar Dorje Shugden, não há como acalentar nenhuma esperança de convidar-me e, mesmo que seja convidado, não me sentirei à vontade aceitando tais convites.
Do mesmo modo, se houver pessoas que sintam que não são capazes de desistir dessa prática e que sintam que irão continuar a praticar Dorje Shugden, não vejo nenhuma vantagem para elas no ato de permanecerem sob os auspícios do governo tibetano do Ganden Phodrang.
Vocês podem pensar que, publicando cartas, panfletos etc. contra essa proibição, o Dalai Lama vai revogá-la. Isso nunca acontecerá. Caso vocês tomem uma postura rígida, tornarei essa proibição ainda mais estrita.
Depois desse pronunciamento, o Dalai Lama levanta-se de seu trono e, apontando para a direita e esquerda, pergunta: “Qual é Shartse e qual é Jangtse?” Depois, apontando para a seção de Shartse, ele continua: “Aviso vocês, monges mais antigos de Shartse, vocês não podem dizer uma coisa e fazer outra. Os monges mais antigos deveriam mudar seu ponto de vista e guiar os mais novos”.
1997
6 de junho de 1997
É feita uma emenda na constituição tibetana:
Versão original: “O Chefe de Justiça do Supremo Tribunal: O Chefe de Justiça do Supremo Tribunal deve ser um cidadão tibetano e num tribunal de justiça (…) deve ser chamado de (…) .” Versão nova: O Chefe de Justiça do Supremo Tribunal: O Chefe de Justiça e as outras duas justiças da Corte Suprema, além de serem cidadãos tibetanos, não devem ser devotos de Gyalchen Shugden e em um tribunal de justiça (…) não
precisam ser chamados de (…).”
1998
Janeiro de 1998
Tashi Wangdu, presidente do Conselho Regional Tibetano faz um depoimento à televisão Suíça:
Existem deidades governamentais e não governamentais. Cultuar deidades que não são reconhecidas por nosso governo é contra a lei.
2 de janeiro de 1998
Durante a inauguração de um novo pátio de debates no monastério de Sera-Mey, os monges de Pomra Khangtsen (uma seção do monastério), que constituem cerca de três quartos do monastério e que confi todos eles em Dorje Shugden, são proibidos de participar da cerimônia. Seguindo instruções do governo tibetano no exílio, em Dharamsala, esses monges são impedidos de deixar seus quartos e mantidos em prisão domiciliar pela polícia local. O governo tibetano no exílio alega que esses monges são uma ameaça para a segurança do Dalai Lama.
Durante a cerimônia de inauguração, há uma grande tangkha de Tha-wo exposta, a deidade protetora do monastério, que é parecida com Dorje Shugden. O Dalai Lama, pensando erroneamente que a deidade fosse Dorje Shugden, ataca ferozmente a prática de Dorje Shugden no seu discurso aos monges. Mais tarde ele reúne todos os abades e começa a castigá-los por haverem exposto a tangkha, até que alguém lhe mostra que não se trata de Dorje Shugden.
Durante esse discurso o Dalai Lama anuncia que os monges devem escolher entre o Dalai Lama e Dorje Shugden.
5 a 8 de janeiro de 1998
O programa de notícias da televisão Suíça SF1, “10 vor 10” apresenta quatro reportagens consecutivas sobre o caso Dorje Shugden, entituladas “Dalai Lama: discórdia no exílio”. Essas reportagens revelam o sofrimento e o conflito causados dentro da comunidade tibetana no exílio pela proibição da prática de Dorje Shugden, assim como a hipocrisia do próprio Dalai Lama e do governo tibetano no exílio ao procurarem suprimir as evidências da perseguição contra os praticantes Shugden.
22 de março de 1998
Há um encontro público em Déli “sobre a crise religiosa precipitada pelo gabinete do Dalai Lama”. O número de participantes chega a 200, incluindo Shri Rathi Lal Prasad, Membro do Parlamento (partido BJP), Sra. Dolly Swami, Presidente do Mazdoor Deli (Trabalhadores), Prof. P. R. Trivedi, Presidente da Ecologia e Meio Ambiente da Índia, Shri Dev Anand Mishra, proeminente ativista de direitos humanos, Prof. Ashwani Kumar, Faculdade de Direito da Universidade de Déli e outros dignitários. O Sr. Rathi Lal expressa genuína dor com respeito à proibição religiosa. Ele diz que isso é um indubitável ataque à liberdade religiosa, garantida pela constituição da Índia. Ele se oferece para discutir sobre esse assunto com seus colegas do governo e levar o debate ao parlamento. Dolly Swami salienta que, enquanto os tibetanos viverem na Índia, seu líder deve viver sob a lei indiana. Cada líder indiano ou acadêmico que fala nessa ocasião expressa profunda simpatia para com todos aqueles tibetanos que cultuam Dorje Shugden e oferece seu incentivo.
23 de março de 1998
Em Tages Anzeiger (maior jornal da Suíça), o Dalai Lama diz:
Penso que esse culto de Shugden tem acontecido por 360 anos como um furúnculo doloroso. Agora eu tenho – como um cirurgião moderno – que fazer uma pequena operação que dói por um tempo, mas é necessária para solucionar o problema.
19 de maio de 1998
Uma carta é enviada para o Departamento de Religião e Cultura, Central Administrativa Tibetana do Dalai Lama, assinada por Tenzin Topgyal, Assistente-geral, e dirigida aos “Oficiais do Bem- estar e Assentamento” na Índia:
No que diz respeito a monges e monjas que desejam viajar a países estrangeiros, após obterem uma carta de recomendação do oficial local da casa do bem-estar e moradia relativa à força da carta de autorização recebida de seus monastérios, depois que tal carta tiver sido recebida neste local, (este departamento)
precisará obter autorização do Secretário do Gabinete depois que este verificar se o candidato preenche ou não os pré- requisitos (…).
3. Atestado do monastério e do abade, de que nem o anfitrião, seja pessoa ou organização, nem o convidado sejam um devoto de Dolgyal, ou possuam qualquer tipo de conexão com Dolgyal.
Esse requerimento infringe diretamente o artigo 13 (2) da Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas, artigo 12(2) da Aliança Internacional dos Direitos Civis e Políticos das Nações Unidas, artigo 21 da Constituição indiana e artigo 18 da Constituição tibetana adotada pelo governo tibetano no exílio.
1999
13 de janeiro de 1999
O Dalai Lama visita o Labrang de Trijang (no monastério de Ganden Shartse), a residência do falecido Trijang Rinpoche (1900- 1981), que foi seu Guru-raiz. Numa reunião no Labrang dos monges, o Dalai Lama diz:
(…) durante minha visita à Suíça, Lobsang [administrador- chefe do Labrang de Trijang] pediu que seja permitido ao atual Choktul Rinpoche [a encarnação reconhecida pelo Dalai Lama de Trijang Rinpoche] cultuar Dorje Shugden da mesma forma que seu precursor o fazia, sem que seja necessária uma decisão por meio de adivinhação de bola de massa de farinha. Ele também me disse que a proibição da prática de Dorje Shugden está causando sofrimento generalizado a todos e que ela deveria ser revogada. Isso é um discurso ridículo. Minha razão para banir o Protetor Shugden é de interesse da política e religião tibetanas, bem como da Tradição Gelug. Em nosso encontro cara a cara, eu também pedi ao Rinpoche que entendesse que aquele poderia ter sido nosso último encontro.
Durante uma audiência privada com o Dalai Lama, o venerável Choezed-la, o oficial mais ancião do Labrang de Trijang, humildemente salienta que a proibição religiosa criou um clima
de hostilidade sem precedentes contra o Monastério Shartse e o Labrang de Trijang, que não difere muito do clima da Revolução Cultural no Tibete. Ele pediu que, com a finalidade de acabar com o sofrimento do povo tibetano que surge dessa atmosfera, o Dalai Lama bondosamente considerasse a revogação da proibição. O Dalai Lama, então, respondeu raivosamente:
Não haverá mudança em minha postura. Nunca revogarei a proibição. Você está correto. Vai ser como a Revolução Cultural. Caso eles [aqueles que não aceitam a proibição] não ouçam minhas palavras, a situação vai piorar para eles. Sentem e vejam. Vai só piorar para eles.
14 de janeiro de 1999
Durante o primeiro pronunciamento público no monastério de Drepung, o Dalai Lama menciona brevemente a causa do Tibete e então insiste na proibição da prática de Dorje Shugden. Um extrato diz: “A Sociedade Dorje Shugden brinca comigo por onde vou. Eles publicaram um anúncio. Acham que vou recuar. Nunca o farei. Caso não aconteça nessa vida, um sucessor será indicado para manter essa proibição”.
15 de janeiro de 1999
Em Mundgod, representantes da Sociedade Dorje Shugden ligam para o Sr. Pema Choejor, Ministro tibetano para o Departamento de Segurança em Dharamsala, e para o Sr. Khedrup, Secretário do mesmo departamento. Os representantes da Sociedade, em seu encontro cara a cara, explicam a situação detalhadamente. Os extratos incluem:
O Governo no exílio já nos privou de nossos direitos políticos e religiosos. A opinião pública tibetana foi induzida a nos odiar mais do que [eles odeiam] aos chineses, com discriminação, difamação, abuso e alegações sem fundamento. Isso tem acontecido há três anos. Da nossa parte, muitas e muitas vezes, nós nos aproximamos do Dalai Lama e do governo do exílio através de representantes e de delegações, bem como através de numerosas petições. Até agora, entretanto, não houve solução solidária do lado do governo no exílio. Hoje o Dalai Lama falou abertamente com tanta raiva, agressividade e de forma tão abusiva contra nós e nossa fé em frente de toda comunidade.
De acordo com vocês, a prática de Shugden na sociedade tibetana ameaça o bem-estar do Dalai Lama e a causa tibetana. Não temos intenção alguma de sabotar o bem-estar do Dalai Lama, mas, ao mesmo tempo, não podemos comprometer nossos princípios religiosos para o bem de uma conveniência política.
Os funcionários do governo respondem a esses representantes assim:
Compreendemos suas dificuldades. Vamos transmitir seu problema claramente para o Kashag em Dharamsala. O que vocês dizem é verdade, mas, já que a proibição vem de Sua Santidade, ficamos numa situação muito delicada. Sua Santidade está assumindo uma postura de rocha e, se vocês também assumirem uma postura rígida, nós [o governo no exílio] ficaremos sem chances entre os dois.
Primeira semana de maio de 1999
Em uma reunião informal de organizações tibetanas locais em Darjeeling com o novo oficial representante do Dalai Lama, esses grupos anunciam extraoficialmente para a comunidade tibetana local que doravante a ninguém seria permitido chamar qualquer membro dos seguintes três monastérios locais para nenhuma reunião tibetana ou festival budista nessa área: Monastério Samten Choeling (estabelecido em 1952), Monastério Tharpa Choeling (1922) e Monastério Kharshang (1919). Todos os três são monastérios Gelug que seguem a prática de Dorje Shugden.
24 de julho de 1999
Um cartaz anônimo aparece nos assentamentos tibetanos no Nepal dizendo:
O monastério Mahayana Gelug em Kathmandu enviou cerca de 152 monges para os arredores dos monastérios de Pomra, de Sera-Mey, e Dhokang, de Ganden Shartse.
Os cartazes continuam pedindo às famílias tibetanas no Nepal que não enviem suas crianças para esses monastérios, pois ali se pratica Dorje Shudgen.
2000
12 de setembro de 2000
Cerca de 3000 tibetanos vão a Dhokhang Khangtsenno, monastério de Ganden Shartse, atacando o monastério e seus monges com pedras e tijolos.
14 de dezembro de 2000
O Supremo Tribunal de Déli envia o Departamento de Polícia de Déli para investigar acusações de tortura de praticantes de Dorje Shugden por agentes do Dalai Lama.
2001-2008
Ao longo desse período, muitos praticantes Shugden fogem da Índia e do Nepal para outros países. Outros praticantes Shugden preferem permanecer na Índia, mas em lugares onde não há seguidores do Dalai Lama. Entretanto, membros de suas famílias e parentes que ainda vivem dentro das comunidades tibetanas continuam a sofrer.
2006
14 de fevereiro de 2006
Em Lhasa, Tibete, uma estátua de Dorje Shugden é removida à força do Monastério Ganden e destruída juntamente com uma estátua de Setrab (outra deidade do budismo) por alguns monges da sessão Nyakri do Monastério Ganden. Agitação toma conta do Tibete devido às fortes denúncias feitas pelo Dalai Lama durante a Iniciação de Kalachakra (na Índia) e também devido aos rumores espalhados por pessoas enviadas ao Tibete com a missão de dizer que a deidade Dorje Shugden está ameaçando a independência tibetana e é um perigo para a vida do Dalai Lama. As casas de praticantes de Dorje Shugden e de seus parentes são atacadas.
19 de julho de 2006
Em Lhasa, Tibete, a casa de uma conhecida família de praticantes de Dorje Shugden é atacada por quatro tibetanos usando máscaras e afirmando ser mensageiros do Dalai Lama. A única pessoa que estava em casa naquele momento era o filho mais velho de 20 anos, que é então torturado, tendo seus dedos arrancados. Ele recebe a ameaça de que, da próxima vez, eles iriam cortar suas mãos e depois sua cabeça, caso sua família não ouvisse o Dalai Lama.
Janeiro de 2008
Em um discurso feito num monastério tibetano no sul da Índia, o Dalai Lama diz, com relação aos monges Shugden:
Esses monges precisam ser expulsos de seus monastérios. Se eles não estão satisfeitos, vocês podem dizer a eles que o próprio Dalai Lama pediu que isso fosse feito e que é muito urgente.
Um registro da contínua perseguição de praticantes Dorje
Shugden é mantido na “Crônica dos Eventos” em:
www.westernshugdensociety.org