Capítulo 5

A política Lama

As explicações apresentadas neste livro visam a incentivar as pessoas a não seguirem ou a não se deixarem influenciar pela “Política Lama”, que, como uma droga, faz com que as pessoas fiquem confusas com relação à verdadeira natureza da prática budista. Neste contexto, “Lama” diz respeito ao Quinto, Décimo Terceiro e Décimo Quarto Dalai Lamas do Tibete. A política desses lamas tem sido usar religião para alcançar objetivos políticos, causando, assim, sofrimento a milhões de pessoas, geração após geração. Em razão de a política do Quinto Dalai Lama misturar religião e política, as tradições Nyingma, Sakya e Kagyu do budismo tibetano declinaram rapidamente e, como resultado, por centenas de anos milhares de pessoas que seguiam essas tradições passaram por grandes dificuldades. Hoje, vários seguidores dessas tradições dizem que foram os seguidores da Tradição Gelug que causaram o declínio de suas tradições, mas isso não é verdade. Os gelugpas não tinham poder político. Foi o Quinto Dalai Lama que, sozinho, usou de seu poder político para impedir o desenvolvimento dessas tradições, tanto espiritual como materialmente.

O Quinto Dalai Lama sempre mostrou duas faces. Uma era aquela de um nyingmapa e a outra era aquela de um gelugpa. Na verdade, ele não seguiu nenhuma das duas tradições, mas permaneceu entre ambas sem nunca ter encontrado um caminho espiritual puro. No que diz respeito a isso, ele era igual ao atual Dalai Lama, o Décimo Quarto, que também mostra duas faces e, igualmente, jamais encontrou um caminho espiritual puro.

O Quinto Dalai Lama obteve poder político no século XVII através da ajuda militar do Khan Gushri, o dirigente dos mongóis qoshot, que o ajudou a lutar contra Karma Tenkyong Wangpo, o principal dirigente do Tibete naquela época. A pedido do Quinto Dalai Lama, Gushri Khan enviou suas tropas mongóis ao Tibete e, como resultado, venceu a guerra. Karma Tenkyong Wangpo foi capturado e, mais tarde, executado. Assim, o Quinto Dalai Lama obteve poder político, tornando-se dirigente do Tibete. Esse único acontecimento revela a natureza da Política Lama. O Quinto Dalai Lama era um monge budista ordenado que tinha como compromisso não matar ou prejudicar os outros. Ele, portanto, agiu diretamente contra os compromissos espirituais estabelecidos por Buda. Este é um exemplo muito vergonhoso para um monge budista ocupante de uma posição de um lama elevado, um suposto ser sagrado.

Nos seus ensinamentos, o Quinto e Décimo Terceiro Dalai Lamas falavam sobre compaixão, mas eles se comportavam como ditadores, criando inúmeros problemas para a sociedade. Isso também é válido para o presente Dalai Lama. A despeito dessa hipocrisia, muitas pessoas, devido a sua visão religiosa extremada e fé cega, ainda acreditam que esses lamas são seres sagrados. Na sociedade tibetana, qualquer um que tenha pontos de vista e intenções diferentes do presente Dalai Lama é imediatamente acusado de não ser tibetano; eles são criticados, ameaçados e sofrem isolamento. Isso aconteceu no passado e agora acontece com os praticantes de Dorje Shugden. A partir disso podemos ver que essa Política Lama continua a ter um efeito devastador na sociedade. Esse problema não pode ser resolvido, a não ser que o lama ele mesmo mude sua atitude pessoal. O Quinto Dalai Lama foi o fundador da Política Lama, que ele chamava de “união entre política e religião”.

A natureza da Política Lama é enganosa; sua função é unicamente enganar as pessoas e usar a religião para atingir objetivos políticos. É como um arco-íris: a certa distância parece bonito, mas quando examinado de perto é percebido como algo completamente vazio e efêmero. O Décimo Terceiro e o Décimo Quarto Dalai Lamas foram aqueles que mais sustentaram a política estabelecida pelo Quinto Dalai Lama e, comparada a eles, a política do atual Dalai Lama é a pior.
Durante a época do Quinto Dalai Lama havia um lama chamado Ngatrul Dragpa que era reconhecido como uma emanação do Buda da Sabedoria. Embora o Quinto Dalai Lama tivesse poder político, Ngatrul Dragpa tinha poder espiritual e as pessoas em todo Tibete tinham grande fé em Ngatrul Dragpa; também Gushri Khan tinha autoridade. Esses dois lamas tinham diferentes pontos de vista e intenções. Ngatrul Dragpa rejeitava a Política Lama da união entre religião e política.

Ele queria que o budismo permanecesse puro, sem ser usado para metas mundanas, mas o Quinto Dalai Lama se opunha a isso. Temeroso de que Ngatrul Dragpa usurpasse sua posição através da ajuda dos ministros de Gushri Khan, o Quinto Dalai Lama e seus ministros assassinaram secretamente Ngatrul Dragpa. É comumente aceito que Ngatrul Dragpa apareceu então como a deidade chamada de Dorje Shugden, um protetor do puro budismo que impede a religião budista de ser usada para interesses políticos. Essa crença está baseada nos compromissos feitos pelo próprio Ngatrul Dragpa, antes de sua morte, em várias predições1. Uma descrição mais detalhada do envolvimento do Quinto Dalai Lama no assassinato de Ngatrul Dragpa será apresentada mais tarde no Capítulo 8.

Depois da morte de Ngatrul Dragpa, o Quinto Dalai Lama começou a vivenciar muitas difi e sinais inauspiciosos. Devido a isso, ele passou a acreditar que Ngatrul Dragpa havia se tornado Dorje Shugden e que este tinha o desejo de retaliar. Ele se sentia aterrorizado com o fato de que Dorje Shugden agora pudesse matá-lo. Primeiro, o Quinto Dalai Lama buscou refúgio em outros lamas e pediu-lhes que queimassem Dorje Shugden com um ritual mágico de uma prática do fogo. Quando isso não funcionou, ele então fez muitas preces fervorosas para seu próprio protetor, o espírito Nechung, para que este destruísse Dorje Shugden, mas suas experiências de sinais inauspiciosos e alucinações tornaram-se ainda mais fortes. Finalmente ele entendeu que havia cometido um grande erro opondo-se a Ngatrul Dragpa. Arrependido de suas ações anteriores, começou a respeitar as instruções de seu Guru- raiz, o primeiro Panchen Lama, Losang Chokyi Gyaltsen, que havia indicado que Ngatrul Dragpa era o mesmo continuum mental dos seres sagrados do passado Sonam Dragpa, Duldzin Dragpa e Je Tsongkhapa Losang Dragpa. Com grande arrependimento, o Quinto Dalai Lama confessou suas ações errôneas e, reconhecendo Dorje Shugden como uma deidade iluminada, finalmente decidiu confiar nele. Para sua prática diária, o Quinto Dalai Lama escreveu a seguinte prece a Dorje Shugden, intitulada Lhundrub Doma em tibetano:

hum
Embora inamovível da esfera de espontaneidade primordial, Com poder turbulento e irado, mais veloz que o relâmpago, Dotado de heroica coragem para discernir o bem do mal, Convido-te com fé, por favor, vem a este lugar!

Vestes de um monge, coroa adornada com chapéu de couro de rinoceronte,
Mão direita segura um bastão ornamentado, mão esquerda, um coração humano,
Cavalgando sobre várias montarias tais como nagas e garudas,
Aquele que subjuga os mamos dos solos sepulcrais,
Louvores a ti!

Substâncias de samaya, oferendas e tormas, exteriores, interiores e secretas,
Oferendas visuais prediletas e vários objetos são dispostos. Embora anteriormente meus desejos fossem ligeiramente densos, Não cesses com tuas poderosas aparições, revelo e confesso!

Agora respeitosamente louvando com corpo, fala e mente, Para nós, os mestres, discípulos, benfeitores e séquito,

Propicia o bem e impede o mal!
Traze crescimento aos reinos espirituais e temporais como a lua crescente!

Ademais, satisfazendo rapidamente todos os desejos,
de acordo com nossos pedidos, concede o supremo com facilidade!
E como uma joia-que-satisfaz-os-desejos, Sempre nos proteje por meio das Três Joias!

Mais tarde ordenou que um templo a Shugden fosse erigindo em Lhasa, chamado Trode Khangsar, o qual ainda hoje existe; onde chegou ele mesmo a esculpir a primeira estátua a Dorje Shugden.

A partir desse relato, podemos entender que as ações do atual Dalai Lama são completamente opostas às do Quinto Dalai Lama. Devido à sua ignorância, o Quinto Dalai Lama primeiro rejeitou a deidade iluminada Dorje Shugden, mas posteriormente sua mente mudou de ignorância para sabedoria, momento em que ele passou a acreditar e a confiar em Dorje Shugden pelo restante de sua vida. Contrariamente, o atual Dalai Lama primeiro confiava na deidade iluminada Dorje Shugden. Durante esse período chegou a escrever uma prece, os primeiros e últimos versos dizem o seguinte:

Tu és o poderoso protetor do Salvador Manjushri,
Que possuis a poderosa riqueza da sabedoria e da compaixão
de inúmeros conquistadores,
E que surgiste como o rei de todos os poderosos e irados; Por favor, vem da Terra Pura Dakini de Tushita e assim por diante.
(…)
Resumindo, peço a ti, ó Protetor,
Que és a síntese de todos os Protetores, Yidams e Gurus, Por favor, sê a corporificação de todos meus Protetores, Yidams e Gurus, E por favor, manda uma chuva vinda da grande reunião de nuvens dos quatro tipos de ações, para satisfazer as duas aquisições.

Posteriormente, tendo recebido um conselho do Oráculo do Espírito Nechung, a mente do atual Dalai Lama mudou da sabedoria para a ignorância. Usando seu poder político, ele agora impôs uma proibição sobre a prática de Dorje Shugden, causando sofrimento a milhares de pessoas. A despeito da diferença entre suas ações, o atual Dalai Lama ainda diz publicamente que ele rejeita Dorje Shugden porque está seguindo o Quinto Dalai Lama. Isso é evidentemente uma mentira.

Praticantes Shugden desejam praticar a Tradição Gelug puramente, sem misturá-la com a Tradição Nyingma ou com qualquer outra tradição e, por isso, o atual Dalai Lama diz que os praticantes Shugden são sectários. Na verdade, os praticantes Nyingma também querem praticar sua tradição puramente, sem misturá-la com a Tradição Gelug e isso também é valido para praticantes Sakya e Kagyu. Assim, de acordo com a visão do Dalai Lama, os praticantes dessas outras tradições também seriam considerados sectários. No entanto, ele acusa somente os praticantes Shugden. Isso mostra o quanto ele é desonesto e tendencioso.

O que o atual Dalai Lama realmente deseja é tornar-se o líder de todas as tradições do budismo tibetano fazendo com que todos os praticantes dessas tradições ao redor do mundo somente sigam uma única tradição, aquela criada recentemente por ele. Fazer isso naturalmente destruiria as bênçãos e as puras linhagens das tradições Nyingma, Sakya, Kagyu e Gelug. Isso seria uma grande perda para nosso mundo, onde as pessoas mais do que nunca precisam ter acesso aos métodos supremos de Buda para achar verdadeiras paz e felicidade; é por essa razão que a Associação Shugden do Ocidente está incentivando as pessoas a pararem de ser enganadas pela droga da Política Lama.