O fundador da religião budista, o Dharma, foi Buda Shakyamuni. Shakya é o nome da família real na qual ele nasceu e Muni quer dizer “o capaz”. Ele nasceu como um príncipe no século VII a.C. e recebeu o nome de Siddharta. Aos 29 anos de idade, o Príncipe Siddharta renunciou ao seu reino e, levando a vida de um monge na floresta, meditou durante seis anos até que alcançou a plena iluminação, a budeidade.
Pelos quarenta anos seguintes, depois de ter alcançado a iluminação, Buda viajou por toda a Índia e, motivado por grande compaixão, ensinou o sentido do estado que alcançou e a maneira como alcançar o mesmo estado. É comumente dito que durante esse período ele deu 84.000 ensinamentos diferentes de acordo com as diferentes capacidades e inclinações mentais e espirituais daqueles que ouviam tais ensinamentos.
O Budadharma, então, gradualmente floresceu em grande parte da Ásia e foi introduzido primeiramente no Tibete durante o reinado de Songtsen Gampo (cerca de 616-650 d.C.), embora só tenha florescido no reinado de Trisong Detsen através das atividades de Shantarakshita, Padmasambhava e outros professores budistas indianos.
O rei Trisong Detsen primeiro convidou o renomado professor budista Shantarakshita para ir ao Tibete, mas logo Shantarakshita se defrontou com a oposição de muitos ministros do rei que eram seguidores da religião bön e ele foi forçado a partir por algum tempo. Antes de partir, aconselhou o rei a convidar outro famoso mestre indiano, o grande praticante tântrico Padmasambhava, que foi capaz de pacificar os espíritos não budistas do Tibete, removendo, assim, os obstáculos para difundir os ensinamentos Mahayana e Vajrayana por todo o país. A tradição que se desenvolveu a partir dessa primeira disseminação do budismo no Tibete e que traça as suas origens nas traduções das escrituras produzidas durante esse período é chamada de Nyingma ou Antiga Tradição.
O trabalho do Rei Trisong Detsen, de Padmasambhava e de Shantarakshita, entretanto, foi logo desfeito pelo rei antibudista Lang Darma, que reinou de 838 até 842. Lang Darma destruiu templos budistas, fechou monastérios e forçou monges e monjas a se desordenarem, executando aqueles que se recusassem. Dessa forma, ele erradicou todas as formas de prática budista organizada no Tibete. As perseguições de Lang Darma levaram eventualmente a sua própria morte, pois, ao assistir a uma atuação teatral, ele foi morto por uma flecha lançada por um monge budista que fingia ser um dos atores.
Embora o budismo gradualmente retornasse ao Tibete, somente 100 anos mais tarde ele começou a florescer novamente. Uma das figuras principais dessa segunda disseminação foi Atisha (cerca de 982-1054), outro famoso erudito budista indiano e mestre de meditação. Atisha foi em grande parte o responsável pelo restabelecimento do budismo no Tibete e sua apresentação especial dos ensinamentos budistas, chamada de Etapas do caminho à iluminação (Lamrim em tibetano), suscitou tanto interesse e devoção que a preponderância do budismo na sociedade tibetana nunca mais foi ameaçada. Sua tradição mais tarde ficou conhecida como Tradição Kadampa. Os seguidores de Atisha, conhecidos como Geshes Kadampa, não somente eram grandes eruditos, mas também praticantes espirituais de imensa pureza e sinceridade. Ao mesmo tempo, através da obra extraordinária de outros grandes mestres tibetanos, incluindo Marpa, o tradutor (1012-1097); seu discípulo, o famoso Iogue Milarepa (1052-1135); e o discípulo de Milarepa, Gampopa (1079-1153), que era também um praticante do Kadam Dharma, a Tradição Kagyu foi estabelecida.
A Tradição Sakya foi estabelecida por Gonchok Gyelpo (1034- 1102) que fundou o Monastério Sakya em 1073. Um dos grandes mestres dessa linhagem, Sakya Pandita (1182-1251), foi convidado a ir à Mongólia em 1244, pelo príncipe mongol Godan, neto de Genghis Khan. Sakya Pandita foi capaz de difundir o budismo em toda Mongólia e o Príncipe Godan, por sua vez, instituiu a linhagem Sakya como força política dominante no Tibete daquele período. As tradições Sakya, Kagyu, Kadam e mais tarde Gelug seguiram todas elas as traduções das escrituras tântricas feitas durante o período da segunda disseminação do budismo no Tibete e são designadas em tibetano como sarma ou novas tradições.
A instutiução do dalai lama pertence à Tradição Gelug (ou Ganden), que foi fundada por Je Tsongkhapa (1357-1419). A Tradição Gelug surgiu como uma reforma da antiga Tradição Kadampa original fundada por Atisha. Os praticantes Gelug (gelugpas) algumas vezes são chamados de Novos Kadampas. O legado de Je Tsongkhapa para o Tibete é uma forma muito pura e especial de praticar os ensinamentos de Buda. Sua fonte é a Escritura Emanada Kadam, que foi transmitida diretamente a Je Tsongkhapa pelo Buda da Sabedoria Manjushri. A tradição que se desenvolveu a partir daí é conhecida como Linhagem Oral Ganden.
Os antigos mestres que sustentaram essa tradição, incluindo os quatro primeiros Dalai Lamas, levaram vidas exemplares de prática pura e dedicação altruísta para o benefício dos outros.