O caso Panchen Lama

O Panchen Lama é considerado o segundo mais elevado lama encarnado, depois do Dalai Lama, no ranking da Tradição Gelug do budismo tibetano. Os sucessivos Panchen Lamas formam uma linhagem de tulkus reencarnados que são considerados encarnações de Buda Amitaba.221
Depois da morte do Panchen Lama em 1989, o governo chinês concordou em permitir a escolha de um novo Panchen Lama e, em 1993, o Décimo Quarto Dalai Lama foi convidado a cooperar no processo de seleção. No final de 1994, Chandrel Rinpoche, o chefe do grupo de busca, indicou que, dos 25 candidatos, Gendun Choeki Nyima era a verdadeira reencarnação do Panchen Lama. “No começo de fevereiro, o Dalai Lama enviou uma mensagem a Chadrel Rinpoche afirmando que ele havia feito uma adivinhação que confirmava a escolha de Gendun Choekyi Nyima”.222

Ao obter a confi mação do Dalai Lama, Chandrel Rinpoche tentou conseguir a aprovação chinesa para o garoto, mas “… o governo [chinês] pediu a Chadrel que apresentasse de três a cinco nomes para que o sorteio da urna dourada fosse realizada”.223 O “sorteio da urna dourada” é um método tradicional de seleção divinatória na qual a reencarnação é estabelecida pela escolha ou “retirada” de um nome da urna dourada contendo os nomes de todos os candidatos. Em meados de maio, antes que o governo chinês houvesse terminado as preparações para o sorteio da urna dourada, o Dalai Lama subitamente anunciou ao mundo que ele reconhecia Gendun Choekyi Nyima como o novo Panchen Lama. Ele “afirmou que o governo chinês não tinha autoridade sobre essa escolha, dizendo, ‘A busca e reconhecimento da reencarnação do
Panchen Rinpoche são uma questão religiosa e não política’”.224

Esse pronunciamento, claro, envergonhou e enfureceu o governo chinês.
(…) Chadrel foi condenado a seis anos de prisão (…) Beijing (…) desqualificou Gendun Choekyi Nyima e usou o sorteio da urna dourada para selecionar uma criança diferente, que foi confirmada pelo governo chinês em novembro de 1995.225

O anúncio prematuro da escolha do Panchen Lama pelo Dalai Lama foi um desastre tanto político como pessoal para aqueles envolvidos. Melvyn Goldstein escreveu:

A decisão do Dalai Lama de anunciar prematuramente o novo Panchen Lama foi, no mínimo, politicamente inadequada. (…) É claro que os tibetanos e os simpatizantes ocidentais se sentiram felizes ao ver o Dalai Lama exercer sua autoridade nessa questão, mas o preço pago foi elevado e os ganhos minúsculos. Em termos práticos, (…) ele de fato condenou o garoto que ele elegeu a uma vida de prisão domiciliar.

(…) Além disso, seu anúncio enfraqueceu enormemente a credibilidade de representantes chineses mais moderados, que tentavam convencer o Conselho de Estado de que um processo de seleção que respeitasse a etnia tibetana era o melhor para os interesses chineses e, consequentemente, reforçou a opinião dos extremistas de que a China não podia confi no Dalai Lama ou trabalhar com ele, além do que diminuiu as chances de que China volte a concordar em renovar as negociações com ele.226