Segundo fontes tibetanas, um dos irmãos mais velhos do Dalai Lama, chamado Gyalo Dondrub, aproveitou-se da nova situação do exílio para aumentar sua influência pessoal.
No Tibete a família do Dalai Lama era respeitada, mas não tinha poder político. Gyalo Dondrub, entretanto, usou a nova situação do exílio para obter uma poderosa influência sobre a política tibetana.274
Várias famílias nobres tibetanas como os Phala, Surkhang e Yuthog usaram ativamente sua influência para conseguir grandes benefícios para a comunidade tibetana no exílio.
No antigo Tibete, questões políticas estavam em mãos da nobreza. Depois da bem-sucedida fuga do Tibete, foram essas famílias em especial que estabeleceram assentamentos, escolas e representações políticas em países estrangeiros.
Eles, contudo, puseram-se no caminho da ambição de Gyalo. Em meados de 1960, ele conseguiu voltar a opinião pública contra Surkhang e Yuthog, que foram, assim, forçados a deixar a Índia e mudar-se para Taiwan. Phala foi eleito representante na Suíça e, dessa forma, perdeu sua influência direta na Índia.275
Até os dias de hoje, Gyalo Dondrub permanece um das figuras mais poderosas dentro da comunidade e governo tibetanos.
Ele [Gyalo] está continuamente ocupado com negócios “secretos” nos bastidores e, embora mantenha contato direto com a CIA, ele é o único contato direto que o Dalai Lama tem com a liderança comunista em Beijing. Ele é visto como o “chefe secreto” e seu papel bem como seus objetivos são obscuros.276
Num discurso feito em Taiwan, em 29 de outubro de 1967, por um antigo ministro do governo tibetano no exílio, Yuthok Tashi Dhundrup:
Yuthok criticou muitas das atividades de Gyalo, por exemplo,(1) Gyalo domina DL [o Dalai Lama] e controla seu GTE [o governo tibetano o exílio] através de seu irmão; (2) Gyalo desfalca os fundos do GTE e investe em seus próprios negócios; (3) Gyalo desfalca os recursos das doações destinadas ao exército da guerrilha tibetana; (4) Gyalo controla o GTE através de táticas que envolvem suborno e boicote a funcionários. Esse depoimento revela não somente sua crescente influência no GTE, mas também a desavença entre ele e funcionários, tal como Yuthok.277
Começa a surgir a imagem de um governo dominado pelo Dalai Lama e sua família. No Tibete um membro da família do Dalai Lam seria legalmente impedido de assumir uma função, algo que mudou no exílio, onde Gyalo Thondup [ou Dondrub] e outros mais tarde se tornariam ministros. Muita controvérsia envolve Gyalo Thondup, que, segundo a crença de muitos tibetanos, seria o principal arquiteto do plano do Dalai Lama de integrar o Tibete dentro da China com uma maior autonomia cultural.
Recentemente outro irmão do Dalai Lama afirmou que hoje em dia somente três famílias, inclusive a sua, controlam o governo no exílio (…) “o governo tibetano no exílio é controlado por três famílias, uma delas é a minha” [ou seja, a família do Dalai Lama, ou a família Yapshi Taklha] (…) a antiga elite gelugpa do governo no exílio havia sido em grande parte substituída nos anos 1960. A família do Dalai Lama, [admite]
controlar o país dos bastidores por décadas (…).”278
E como Michael Backman relata em seu artigo Por detrás do manto sagrado do Dalai Lama:
Como muitos políticos asiáticos, o Dalai Lama tem sido impressionantemente nepótico, designando membros de sua família para muitos cargos proeminentes. Nos últimos anos, três dos seis membros do Kashag, ou gabinete, o maior órgão executivo do governo tibetano no exílio, foram parentes próximos do Dalai Lama.
Um irmão mais velho serviu como presidente do Kashag e como ministro da segurança. Ele também chefiou o contramovimento tibetano sustentado pela CIA nos anos 1960.
Uma cunhada serviu como Ministra do Conselho de Planejamento e Saúde do governo tibetano no exílio.
Uma irmã mais nova serviu com Ministra da Saúde e Educação e seu marido, como Ministro do Departamento de Informações e de Relações Internacionais do governo tibetano no exílio.
A filha deles tornou-se membro do Parlamento tibetano no exílio. Seu irmão mais novo serviu como membro de alto escalão do escritório pessoal do Dalai Lama e sua esposa serviu como Ministra da Educação.
A segunda esposa de um cunhado serve como representante do governo tibetano no exílio na Europa do Norte e chefe de Relações Internacionais para o governo no exílio. Todos esses cargos dão ao Dalai Lama acesso familiar a milhões de dólares arrecadados em prol do governo no exílio.279
Não é somente a posição de Gyalo Dondrub com respeito à independência que gerou maior índice de reprovação por parte de tibetanos, mas também a forma pela qual ele tem manipulado sua posição de irmão mais velho do Dalai Lama e, consequentemente, de chefe secular da família Yapshi Taklha, a família do Dalai Lama, que foi automaticamente incluída no sistema aristocrático tibetano. Como fica claro, a fonte do poder de Gyalo Dondrub reside na sua proximidade com o Dalai Lama e, levando-se em conta o fato de que o Dalai Lama nada fez para restringir seu irmão, é o Dalai Lama quem precisa assumir a responsabilidade pelas ações abusivas
e destrutivas dele.