Faz décadas que organizações em todo o Ocidente arrecadam fundos para o “Tibete livre”. De doações governamentais à venda de pingentes, adesivos, bolsas e bonés, até organização de concertos, jantares, exibições e muitos meios imagináveis de arrecadação de fundos, esses organizadores continuam a arrecadar uma vasta quantidade de dinheiro para o que grande parte dos ocidentais acredita ser o objetivo de um Tibete livre e independente.
Em seu artigo Vendendo o Tibete ao mundo, publicado em 5 de junho de 2008, Michael Backman escreve:
GUCCI, iPod, Facebook, Tibete – essas são as marcar mais importantes do mundo, ali onde a integridade da marca é tudo. O Tibete, como marca, funciona exepcionalmente bem.Fatura milhões e as estrelas mais famosas de Hollywood fazem fila para apoiá-la. E mais, fazem-no de graça. O Dalai Lama, o diretor artístico e executivo dessa marca, irá visitar a Austrália novamente na próxima semana. Ele irá conduzir um curso de cinco dias sobre as instruções de uma prece em Sydney. Uma firma foi criada para administrar a visita – Dalai Lama na Austrália Limitada.
Os ingressos para o evento podem ser comprados on-line até mesmo da bilheteria eletrônica do site The Age juntamente com ingressos para Bjorn Again e The Pink Floyd Experience. Porém, poucos são tão caros como os da Experiência Dalai Lama, com o preço dos ingressos variando de $800 para assentos na frente a $450 para assentos no fundo. Ingressos para bons lugares somente na sessão de domingo custam $248. O almoço é à parte – a reserva fica entre $18 e $ 27. Chegou-se até mesmo a criar uma variedade de roupas para vender. Há camisetas polo, bonés de baseball – até mesmo camisetas para fisiculturistas com o símbolo budista do nó infinito. Do estilo chique casual até o despachado urbano, rapaz, esse monge tem de tudo.
Resgatar o Tibete, como em “O resgate do soldado Ryan”, é uma boa fonte de renda. Todos estão envolvidos nisso, até a China. Em abril passado, descobriu-se que uma fábrica na província de Guangdong na China era a responsável pela produção das bandeiras do Tibete livre, tão destacadas nos protestos antiolimpíadas na passagem da Tocha Olímpica pela Inglaterra, França e Estados Unidos. Os trabalhadores da fábrica afirmaram que não faziam a menor ideia do que as bandeiras coloridas representavam. Culpe os meios de comunicação controlados pelo Estado por isso.353
Além disso, espera-se que cada tibetano, seja homem ou mulher, criança, doente ou idoso, vivendo no Oriente ou Ocidente, pague um “imposto para a independência” para o governo tibetano no exílio. Um registro desses pagamentos é mantido num “Livro Verde” que se espera que cada tibetano carregue consigo. Esse livro é essencial para que os tibetanos na Índia consigam uma permissão de viagem para fora do país e aqueles que não pagam perdem benefícios e serviços, sendo geralmente segregados e correndo o risco de serem perseguidos e exilados de sua própria comunidade.354 O governo do Dalai Lama também recebe uma grande quantidade de doações proveniente de outras fontes, tais como governos nacionais, indivíduos de muitos países, instituições fi ntrópicas, empresas e muitos outros tipos de organizações (inclusive do Culto Japonês Aum, como já documentado).
Os fundos recebidos do “imposto para a independência” e todas as outras atividades de arrecadação de fundos não são usadas para o apoio ou alívio da comunidade tibetana. A maior parte dos fundos para a ajuda dos refugiados, para os órfãos, para a educação, para assistência médica e hospitais é obtida diretamente do governo da Índia, de agências de ajuda internacionais, dos governos ocidentais e dos fundos de organizações sem fins lucrativos355. Dentre esses fundos estão incluídos os $1.7 milhões de dólares por ano da CIA.356
Com relação a isso, Grunfeld diz:
Uma das maiores fontes de poder político do Dalai Lama é sua habilidade de controlar fundos de ajuda, bolsas educacionais e a contratação de professores tibetanos e burocratas. Esses poderes somente continuarão a existir enquanto houver muitos refugiados. Consequentemente é benéfico para a liderança manter as crianças em orfanatos, campos de refugiados e abrigos temporários – algo que nada difere da situação dos refugiados palestinos.357
Tem havido corrupção e mau uso generalizado dos fundos de assistência na administração Tibetana.358 Um dos casos mais significativos é o berçário administrado pela já falecida irmã do Dalai Lama, Tsering Dolma. Grunfeld escreve:
(…) enquanto as crianças sob seus cuidados beiravam a inanição, ela era famosa pelos seus costumeiros doze pratos de almoço. Enquanto isso, num tempo de frio intenso as crianças eram abrigadas com camisas finas de algodão e manga curta – embora quando os VIPs visitavam o berçário principal, todas as crianças estivessem bem-agasalhadas com jaquetas, lã, meias grossas e botas fortes.359
O volume de dinheiro arrecadado para as causas tibetanas nestas últimas décadas – que a maior parte dos contribuintes no Ocidente foi levada a acreditar ter sido destinada para o Tibete livre – provavelmente chega a centenas de milhares, talvez bilhares de dólares. Se esses fundos não estão sendo usados para o apoio ou alívio do sofrimento da comunidade tibetana no exílio ou para um Tibete livre, independente (já que o Dalai Lama parou de almejar isso a partir dos anos 1980), então para que finalidade todo esse dinheiro foi arrecadado? Quanto dinheiro foi arrecadado? E onde esse dinheiro está sendo mantido? Essas são perguntas para as quais muitos benfeitores em todo o mundo, inclusive os governos nacionais, deveriam solicitar respostas.
O autor Michael Backman chegou a formular tais perguntas e relatou:
Pouco se sabe sobre as finanças do governo tibetano no exílio. Contactei o Departamento de Finanças em Dharamsala com uma série de perguntas sobre como ele se sustenta e sobre os gastos. Enviaram-me uma série de relatórios como resposta.
O governo no exílio afirma que seu orçamento total para 2002 e 2003 chegava a um equivalente de 22.028 milhões de dólares. O orçamento foi gasto no financiamento de vários programas de saúde, educação, religião e cultura. O gasto mais elevado foi para “gastos relacionados à política” chegando a 7.000.000. O segundo maior gasto foi com Administração, que chega a 4.500.000. Cerca de 1.800.000 foi designado para a administração dos escritórios do governo tibetano no exílio no exterior.
Para tudo o que o governo no exílio afi ma fazer, essa soma parece ser muito baixa. Não fica claro como as doações entram nesse orçamento. Provavelmente essas chegam a milhões, mas não há menção a quantidades, de maneira explícita, nem a sua procedência.360
Após ter feito esse relatório, Michael Backman recebeu ameaças de morte anônimas.361