Quem é, afinal, o Dalai Lama, o Rei-Deus mítico de Shangri-la? Em 1920, após quinze anos sua permanência no Tibete, a escritora e exploradora Alexandra David Néel escreveu:
(…) esses escritores, pessoas que não somente nunca pisaram em solo tibetano como não possuíam nenhuma fonte de informação confiável com relação a seus habitantes, permitiram-se escrever fábulas sem qualquer fundamento. Alguns representaram o Dalai Lama como alguém que entende e fala todas as línguas do mundo. Outros, peremptoriamente, asseveraram que ele era o “papa” de todos os budistas. Outros ainda se referiram a ele como um mágico constantemente engajado na realização de milagres de caráter o mais fantástico possível, enquanto alguns imaginaram seu palácio de Potala como um tipo de “sanctasanctórum”, inacessível aos profanos e povoado por super-homens, hierofantes e guardiães de temíveis mistérios. Tudo isso é pura fantasia. O Dalai Lama é antes de mais nada um soberano temporal: o monarca autocrata do Tibete.362
E, como um jornalista recentemente relatou, as mesmas histórias fantásticas do Dalai Lama ainda existem:
A negação, no Ocidente, de alguns dos alegados abusos de poder do Dalai Lama ou, pelo menos, o apoio incondicional a ele ou a tudo o que faz, acentua o papel que ele desempenha para muitas celebridades, comentaristas e políticos ocidentais da atualidade: ele é a caricatura de “um bom rapaz”, dando suas risadinhas, puro e correto, alguém que aparentemente deveria ser incondicionalmente aplaudido por se posicionar contra os “chineses malvados”. Todos os pontos ruins do Dalai Lama – suas origens no asfixiante sistema medieval do Tibete dos anos 1930; suas práticas arcaicas; seu desrespeito por “conceitos como democracia e liberdade de religião”; o apoio recebido pela CIA na sua Guerra Fria contra os chineses – são simplesmente ignorados, quando Sua Santidade é chamado para ser redator convidado da revista Vogue, participar de um leilão de caridade com Sharon Stone e aparecer acompanhado por Richard Gere. Pema me mostra o Independent on Sunday, publicado um dia antes de me encontrar com ela, que tem uma crônica especial de como o Dalai Lama “cativa o Ocidente”. Pode-se ver por volta de 12 fotos mostrando-o em encontros com celebridades e outros fazedores de bem. Mesmo assim em duas das fotos, não é o Dalai Lama, é um lama diferente. Talvez esses tibetanos todos se pareçam para os editores de fotos britânicos.
“Ele é somente uma foto e um símbolo para muitas pessoas no Ocidente,” é o que Pema disse.363
Por mais de 360 anos, nunca se soube ao certo qual dos Dalai Lamas, inclusive esse, foram autênticos – uma verdadeira reencarnação de Gendun Drub – ou sequer se algum dos ocupantes de Potala o foi. Porém, se o atual Dalai Lama é ou não um Dalai Lama de verdade – a verdadeira corporificação do Buda da Compaixão – deve ser avaliado não por suas palavras ou pela mística que envolve sua posição, mas por suas ações. E sob as evidências apresentadas por este livro, as ações do Dalai Lama estão muito abaixo, inclusive, do que normalmente se considera uma conduta decente, o que dizer então das ações iluminadas de um Buda?
Falando em termos amplos, este livro levou em consideração três tipos de ações do atual Dalai Lama: (1) ações enganosas;(2) ações antiéticas ou não virtuosas; e (3) ações de violência e perseguição. Muitas dessas ações constituem transgressões maiores ou menores dos três conjuntos de votos budistas do Dalai Lama (os Pratimoksha, os Bodhisattva e os Tântricos). Por ter provocado a ruína nos três conjuntos, ele perdeu os três níveis de ordenação. Já que ele quebrou seus votos monásticos, o Dalai Lama não é mais um monge de verdade, embora continue a vestir-se como tal.
A seguir, há um resumo de alguns exemplos de ações diretas ou indiretas do Dalai Lama para ilustrar cada uma das categorias e subcategorias.
Ações enganosas
1. Defender os direitos humanos e liberdade religiosa, enquanto se engaja em violações sistemáticas e abusos aos direitos humanos e à liberdade religiosa.
2. Defender um governo, valores e princípios-democráticos, enquanto conduz uma teocracia autocrática e repressiva em Dharamsala e sustenta uma ideologia marxista comunista.
3. Enganar as comunidades tibetanas ao fazê-las crer que ele está trabalhando pelo retorno de um Tibete livre, independente, e coletar uma “taxa de independência” de cada tibetano por décadas com esse propósito, embora já tenha unilateralmente abandonado essa ideia da independência tibetana há mais de quinze anos.
4. Enganar o Ocidente fazendo sua população crer que ele está trabalhando por um Tibete independente e arrecadando vastas somas de dinheiro através de shows de música Tibete livre, banquetes e outras campanhas de arrecadamento para esse propósito.
5. Incluir farsas e mentiras, em seus escritos tais como autobiografias e filmes biográficos de sua vida, Kundun (onde ele desempenhou importante papel na direção), relacionadas principalmente com:
i. a natureza da rebelião tibetana como sendo uma reação popular das massas contra as atrocidades dos chineses;
ii. seu compromisso em trabalhar com os chineses no desenvolvimento do Tibete sob o comunismo e seu grau de apoio à defesa do comunismo chinês;
iii. a quantidade de mortos tibetanos nas mãos dos chineses e a destruição do palácio de Norbulingka, Potala e da cidade de Lhasa durante sua fuga;
iv. a verdadeira natureza da organização de sua fuga para a Índia, incluindo qual oráculo foi consultado antes de sua fuga para a Índia.
6. Mentir e enganar os outros sobre as razões da proibição da prática de Dorje Shugden, por meio de inúmeros pronunciamentos do governo tibetano no exílio, e orquestrar uma campanha de propaganda e difamação contra praticantes de Dorje Shugden.
7. Negar ter imposto a proibição da prática de Dorje Shugden, enquanto instituía impiedosamente tal proibição sobre as comunidades leigas e monásticas por todo o mundo.
8. Alegar estar criando harmonia, unidade e não sectarismo dentro das quatro tradições budistas tibetanas, quando, na verdade, dividia a sociedade tibetana, criando uma profunda separação dentro das quatro tradições e sistematicamente tentar destruí-las.
9. Alegar ser o Décimo Quarto Dalai Lama e ser da linhagem do Quinto e do Décimo Terceiro Dalai Lamas quando não o é de fato.
Ações antiéticas ou não virtuosas
1. Cumplicidade em ações de violência, calúnia, coação e intimidação.
2. Cumplicidade em comércio ilegal de armas e conspiração para derrubar o governo do Butão, que envolvia assassinato.
Ações de violência de perseguição
As atividades físicas, verbais, sociais e religiosas do Décimo Quarto Dalai Lama e a perseguição levada a cabo direta ou indiretamente por édito, ameaça, coerção e chantagem, por calúnia e propaganda, por excomunhão e banimento, foram bem documentadas acima. Muitas dessas ações, além de serem transgressões muito sérias da disciplina moral de uma pessoa ordenada, também involvem ilegalidades civis e constitucionais. A maior parte delas também constitui grave abuso aos direitos humanos e à liberdade religiosa.
Dessa e de muitas outras maneiras, o Décimo Quarto Dalai Lama tem enganado o mundo e causado sofrimento e problemas. Em países democráticos, presidentes e primeiros-ministros são responsáveis pelas ações de seus ministros, governo e dos políticos e partidos políticos que os apoiam. Da mesma maneira, o Dalai Lama tem responsabilidade direta ou indireta por todas essas ações, porque elas foram executadas por ele pessoalmente ou em seu nome. Ele, e somente ele, deve ser julgado por essas ações e respectivas consequências.